sexta-feira, novembro 13, 2009
Do passado me esqueci
No presente, me perdi.


Se me chamarem,



Diga que saí





Raulzito, "As minas do Rei Salomão"
 
postado por Aleksandra Pereira às 7:40 PM | 2 comentário(s)
sexta-feira, janeiro 30, 2009
Do fim até o começo

O tempo voa, não é mesmo?

Vejo isso nesse exato momento, enquanto escolho as palavras para contar o final do ano já com o pé encostando o fevereiro...

2008 foi um ano intenso. Para o bom e o ruim.

Li, estudei, questionei, vi as crises de Pânico irem embora, conheci o Alhzeimer de perto, vi as crises de Pânico voltarem, uma endometriose em progressão, um diagnóstico para possibilidades de cura. Colocando assim parece triste, mas olhando agora para 2008 eu teria que ser muito tapada se não passasse por tudo isso aprendendo alguma coisa. Percebo o quanto cresci com isso tudo, o quanto ainda preciso crescer.

Questionei tudo o que conhecia e tinha por certo, grata por confirmar que em muito já acertava, em outros tantos tive que dar uma acertadinha no foco. A gente passa por algumas coisas para perceber que sim, tudo podia ser bem pior, mas em menor ou maior grau a maneira como encaramos os problemas os fazem maiores ou menores. Tudo se resume mesmo em escolhas.

Eu sempre escolhi conhecer. 2008 me ensinou a aprender.
Que 2009 me ensine a viver bem com as minhas escolhas.


Beijo grande procês.

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postado por Aleksandra Pereira às 8:09 AM | 4 comentário(s)
sexta-feira, outubro 10, 2008
Somente os livros lidos têm alma
Livros que já foram abertos, lidos,
tocados são livros que guardam um pouco
da sabedoria e da vida daqueles que um dia
os tiveram nas mãos.
Somente os livros lidos têm alma.


- Heloísa Seixas , Diário de Perséfone


crédito da foto: Paula Huven/Folha Imagem

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postado por Aleksandra Pereira às 6:10 PM | 11 comentário(s)
segunda-feira, setembro 29, 2008
Como podemos ajudar?


O Projeto 10100 (pronuncia-se Projeto 10 elevado a 100) é uma convocação do Google em busca de idéias para mudar o mundo ajudando o maior número de pessoas possível.

Envie sua idéia até 20 de outubro.

E que as boas idéias se multipliquem por aí.

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postado por Aleksandra Pereira às 8:35 AM | 3 comentário(s)
quarta-feira, setembro 17, 2008
Lindas palavras de um coração lindo



Ana, a querida amiga do Roccana, me presenteou ontem com esse post lindo. Obrigada mais uma vez, minha linda.


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postado por Aleksandra Pereira às 9:54 AM | 3 comentário(s)
terça-feira, setembro 16, 2008
Uns... trinta e um...

Quem acompanha esse blog sabe que ano passado, nessa época, estava meio down. Mas como tudo na vida, espero ter virado essa página. O que posso e devo fazer hoje é aprender com tudo isso, e procurar não dar espaço para a depressão de novo. A briga é coisa de gente grande, um leão por dia é pouco, mas a gente enfrenta.
Agradeço por todas as mensagens de carinho, e-mails, telefonemas, vibrações que atravessam o Atlântico, abraços apertados. Vi muita gente ir embora ou dar as costas por muito pouco, mas também vi algumas pessoas ficarem por algo em que realmente acredito: amizade verdadeira. Beijos para vocês que, de longe ou de perto, batalharam, apoiaram, sacudiram ou simplesmente escutaram essa pessoa agradecida que aqui escreve.
Feliz. Parabéns para mim!
"Sun is shining in the sky
there aint a cloud in sight it'sstopped raining,
everybody's in the play and don't you know
it's a beautiful new day, Hey, Hey!!"
(ELO, "Mr Blue Sky")
Não, isso não é um momento pós comercial de margarina.
É a vida simplesmente acontecendo.
E eu sigo assim, "escrevivendo" (obrigada, Affonso Romano de Sant'Anna!)

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postado por Aleksandra Pereira às 11:32 AM | 5 comentário(s)
quarta-feira, setembro 10, 2008
Pausa longa, longa pausa
Não é por falta de ter o que escrever não, tô correndo atrás de algumas prioridades. Mas sempre leio os amigos, e "colo" o que mais gosto deles lá no "Itens compartilhados". Contos, Design, Notícias, Loucuras e besteirinhas, muuuuita coisa bacana.

Beijo.
 
postado por Aleksandra Pereira às 1:43 PM | 1 comentário(s)



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postado por Aleksandra Pereira às 12:16 PM | 0 comentário(s)
quinta-feira, julho 17, 2008
Me convidou para ver a lua mas só conseguia enxergar o sorriso em seus olhos.

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postado por Aleksandra Pereira às 10:51 AM | 3 comentário(s)
terça-feira, maio 27, 2008
Esfinge

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postado por Aleksandra Pereira às 8:40 AM | 8 comentário(s)
sexta-feira, maio 16, 2008
UM MICO E UMA ROUBADA
Os dois posts já passaram por aqui e em comentários em certas feitas. Estão de volta, relembrados, revividos, por que eu gosto muito de livros bons e o Marcus do "A GRANDE ABÓBORA" está presenteando com dois muito bons no seu aniversário de 5 anos.

O parabéns é para você, mas o presente é meu, hein?!?

Quem quiser escrever, posta seu Mico e linka pra lá que ainda dá tempo!


UM MICO

Pensei, pensei, e desencavei esse mico da época que tentei fazer faculdade de Relações Públicas aqui em Santos. Parei no segundo ano por descobrir que o curso não existia. Não sei como está hoje, mas na minha época eu não aprendia praticamente nada. O único professor com quem aprendi algo foi o Iberê Sirna. Acabei indo para São Paulo e me formei publicitária pela Cásper Líbero mas, antes disso, ainda aqui em Santos e na FACOS, o curso de jornalismo recebia para uma palestra o repórter Caco Barcellos. Eu era super fã dele, e me ofereci para auxiliar no evento, nem que fosse para ficar repondo copo descartável.

No dia do evento, uma das meninas-chave da coordenação não apareceu, e me deixaram no lugar dela. Minha função? Apresentar as instalações da faculdade para ele, fazer um resumo sobre o curso, blá, blá, blá.

Eu, ansiosa por demais. Imaginem, O Caco Barcellos, admirava o cara. Como nos desencontramos (o primeiro erro), comecei a apresentar as instalações de onde estávamos, do último andar, descendo para o primeiro. Lá ia eu, tremendo feito vara verde, o gajo educadíssimo e disfarçando não perceber meu interno mas quase transbordante transtorno, e aquela turba atrás de nós, como se todos fossem visitantes. Eu abria uma portinha, explicação básica, olhadela, fecha portinha, vamos para a próxima. Nesse meio tempo, ele me disse alguma coisa sobre um trabalho desenvolvido na época, eu toda saltitante, me sentindo a companheira de trabalho e praticamente trocando de curso naquele instante, vou abrindo sem aviso a porta do laboratório de rádio, conversando já intimamente com meu mais novo amigo de infância.

Daí olho um momento para todo mundo, incluindo umas duas professororas minhas, que congelam. Não tinha dado tempo dele entrar ainda para sua conferida rápida, o que foi a salvação, pois havia aberto a porta do bannheiro feminino. A companheira de equipe, trocando de roupa lá dentro, entregue pelo reflexo no encontro dos espelhos.

Presença de espírito instantânea, continuamos o passeio com uma multidão muda, praticamente um serviço religioso e profundo.

Nunca mais me chamaram para atuar em nenhum evento. Assim, sem motivo.



UMA ROUBADA

Um grande amigo, daqueles que ralam e muito em cada trabalho - e que hoje merecidamente coordena os programas brasileiros no Festival Internacional de Curtas de SP, me convocava sempre como diretora de produção para seus curtas.

Produzi três sob a direção dele, um com outro amigo, e ainda morro de saudades de nossas épocas de total falta de grana, mas de criatividade à mil.

Como diretora de produção do "Último dia", tive que correr atrás de muitas autorizações com a polícia, para podermos filmar nas ruas com tranqüilidade. Algumas cenas que seriam rodadas aconteceriam perto de meu antigo apartamento, na Vila Mariana, então entreguei a documentação do projeto para o Posto da Polícia da Sena Madureira, que me receberam muito educadamente. Autorizações entregues, agora correria para encontrar objetos de cena. O Sr. diretor William, sempre ele, me solicita um item bastante fácil de se encontrar por aí:

uma porta.

A porta que seria usada nas cenas do esconderijo da personagem da Laís.
Pois bem, lá vou eu atrás de uma porta que atendesse as solicitações. E não encontrava nada. Só que, perto de onde eu morava, na Sena Madureira mesmo, existia uma casa onde outrora funcionava uma escola de inglês, que estava vazia mas cheia de trecos na entrada. Passei na frente por acaso, e fiquei de voltar mais tarde.

Taí uma coisa que não deveria ter feito: voltar lá.

Pois é. Mas eu fiz. Deixei as coisas que trazia no caminho em casa, e voltei lá. Aqui sublinho: deixei TUDO em casa, inclusive documentos (crianças, nunca façam uma coisa dessas!), só levando minha chave. Estava lá eu, com minha camiseta da Mostra Internacional de Cinema, subindo as escadarias da casa que antes parecia tão inocente, agora me desperta receios. Olho para os lados, e só vejo pedaços de madeira, papelão e caixas para todos os lados. E nada de porta. Resolvo entrar mais na casa para observar seu interior, quando de repente começo a ouvir barulhos. E então pessoas, uns três ou quatro homens, surgem do nada (do nada não, de debaixo daquela montoeira de papelão e madeira!), e me perguntam o que eu estou fazendo invadindo e mexendo na casa deles.

Gelei.
Começo a recuar, tentando explicar que estava ali a trabalho, que não procurava por ninguém, e pensando "como está longe essa porta de entrada. Seja esperta. Corra enquanto pode". Do lado de fora, escuto carros freando bruscamente, próximo ao local. Meu instinto não sei porque pensou : "é a polícia, ficarei bem". Policiais então entram na casa, nervosos, recolhendo as pessoas que estavam ali escondidas, invadindo aquela casa. Começaram a arrastar TODAS as pessoas, incluindo essa que lhes escreve. Comecei a tentar explicar que não era mendiga (olha o nível da situação!), que estava ali a trabalho, mas a policial que me segurava não queria saber de conversa.

Continuei repetindo minha história, quando, por sorte minha, uns dos policiais presente no local havia me recebido no dia em que deixei as autorizações para as filmagens no posto de trabalho dele. Ele acabou me reconhecendo e confirmando que eu deveria estar ali só a trabalho realmente. Agradeci, corri de volta para casa agradecendo por não ter acontecido nada pior. A porta? Bem, acabei não arranjando porta nenhuma. Por coincidência, ao irmos filmar na casa da Carol, encontramos uma dentro de uma caçamba. Se não fosse por isso, lá estaria eu novamente atrás de uma outra porta. E torcendo para não entrar em outra fria, como aquela de filmar no estacionamento dos mafiosos lá na Treze de Maio.

Mais isso já é outra história...

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postado por Aleksandra Pereira às 10:50 AM | 8 comentário(s)
terça-feira, abril 22, 2008
EM BOAS MÃOS
Armando, Gonçalves e Peixoto sempre foram conhecidos como o "Trio Sensação". Amigos desde garotos, cresceram juntos no bairro da Aparecida, estudaram na mesma turma, namoraram amigas. Juntos bateram na porta do Seu Agenor, dono da Fábrica de Sorvetes Gelícia, e por anos trabalharam lado a lado.

Mesmo com relacionamento mais estável do que muitos casamentos, brigavam muito, pois eram de temperamentos diversos: Armando era mulherengo, falastrão e convencido. Gonçalves era o medroso e mentiroso. Peixoto, Peixoto era um cara comum, feliz com a vida que levava, com os amigos. Eles eram sua grande conquista na vida, e se orgulhava ao lembrar que foram suas bolinhas de gude que os uniram. E Peixoto era mesmo a cola que unia os três amigos.

E assim, juntos, viveram por muitos anos. Atravessaram décadas, planos, presidentes, copas e Olimpíadas. Casaram, tiveram filhos, netos. Perderam dentes, cabelos, esposas, filhos. Mas sempre se tiveram por perto, para tudo.

Desde a aposentadoria se encontravam na Praça Quinze a jogar 21 e conversa fora, esticar o olho para as ancas das babás. Todos os dias, às 10, religiosamente, até o dia em que o Peixoto não apareceu.

Armando e Gonçalves o aguardaram na pensão em que viviam por horas, e nada. Guardam a soleira da porta, aflitos. Percorrem hospitais e delegacias, quando Peixoto reaparece, tranqüilo, enigmático, sorriso de orelha a orelha como se nada tivesse acontecido.

Os amigos desconfiam; Peixoto, cada dia fica mais alheio.

Escapando, às vezes Peixoto sumia por poucas horas, quase todos os dias. Antes de terminar o mês, ficava sem sua aposentadoria, logo ele, que sempre fora tão econômico.

Armando e Gonçalves estudaram as possibilidades: vício, jogo ou mulher. Drogas eles descartaram. Jogar ele jogava sim, até apostava – de forma comedida, é claro. Tinha que ser mulher.

E era.
Rose, loirona Wellaton, queimada de sol, pernas roliças e firmes, unhas bem feitas. Uniforme branco justinho, sensual, atendente em casa de massagem - para a mãe, era enfermeira.

Derrubou o queixo de Armando e Gonçalves. Por inveja, por despeito. Não, não. Por preocupação. Uma mulher daquelas só poderia querer depenar o pobre Peixoto, logo ele, que emprestava para quem precisasse, sempre solícito, sempre amigo. Pobre Peixoto.

Tentaram lhe abrir os olhos. “Deixem disso”, ele respondia com um muxoxo que escondia o orgulho. Rose era dele, o que nem os amigos nem ninguém entenderia. Dele, José Álvaro Peixoto, 69 anos, aposentado de uma fábrica de sorvetes. Dele.

Que os amigos não se preocupassem, que Rose era moça direita. Todo dia ela só lhe pedia um dinheiro para uma coisa boba, para uma fezinha no bicho (Sonhava sempre com uma enorme borboleta, tinha certeza que daria). Prometeu que, assim que ganhasse o prêmio, largaria a vida na casa de massagem para viver com Peixoto, como mulher dele, senhora de seu castelo, casa amarela, dois cachorros, um pequeno salão de cabeleireiro e um altar para São Jorge.

Mais de 60 anos de amizade, que sobrevivia à quase tudo. Peixoto desejara novamente provar do fruto proibido, e a serpente se achegou entre eles em forma de mulher. E que mulher!

Não acreditando, Armando e Gonçalves resolveram pagar para ver, e pagaram mesmo: cercaram Rose de mimos, presentes, pequenos agrados em dinheiro. Rose a tudo recebe, timidamente agradecida, mas não conquistada. Reafirma sue amor por Peixoto, e a real vontade de viver com ele.

Eles insistem. Peixoto vai se mostrando cada vez mais calado e desconfiado em casa, com os amigos. Acreditam que tudo vai bem com o plano. Intimamente, tanto Armando quanto Gonçalves se sentiam merecedores de uma noite ao lado daquela Pâmela Anderson do subúrbio. Logo, logo, Peixoto cairia em si e descobriria a besteira que iria fazer.


Rose um dia, do nada, desapareceu. Largara o emprego na casa de massagem, não retocava mais as raízes no salão da Rua Setúbal, não descia mais a Duarte Amaral requebrando e torcendo pescoços. Sumira. Gonçalves reparara no resultado do bicho: borboleta.

Armando e Gonçalves esperam Peixoto comentar o fato, chorar e espernear nos ombros amigos, esbravejando que mulheres são todas iguais, que só mudam de endereço e não deixam o nome da rua. Nada. Com o tempo, Peixoto voltara à normalidade, aos jogos de 21 na praça, ao flerte com as babás – principalmente as loiras de farmácia.

Só a amizade que já não parecia bem a mesma. Peixoto já não ria mais das piadas sem graça de Armando, e nem repetia o prato de macarrão insosso que Gonçalves preparava. Olhava às vezes para o nada, pensativo, distante, à procura. Estava já perdido para eles.

Até o dia em que Peixoto se perdeu de vez. Armando e Gonçalves nunca mais tiveram notícias dele. Imaginavam o amigo entregue à própria sorte, vagando pelas ruas, chorando seu amor malogrado. E ninguém nem nenhuma babá mexeria tanto com eles quanto a bela massagista. Uma pena.

Rose foi vista em uma casinha amarela em uma cidadezinha lá longe, cuidada por dois cachorros que ficavam presos enquanto seu salão funcionava. No meio fio, brincavam suas duas crianças, Dorival, o filho de Peixoto, e o próprio, exibindo sua coleção de bolinhas de gude. Estava no Paraíso.

Se sentia mais moço, capaz de qualquer coisa ou tudo de novo. Dali duas semanas Peixoto faria algo ainda inédito em sua vida: uma tatuagem. Borboleta. A primeira.

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postado por Aleksandra Pereira às 11:27 AM | 1 comentário(s)
quarta-feira, abril 02, 2008
Costumo ler os blogs e sites que gosto através do Google Reader, por ser prático e para não correr o risco de perder alguma atualização bacana. Posso marcar com estrela o post que gostei e lê-lo depois, e uma coisa também legal é poder compartilhar os posts que mais gostei num endereço a parte:

ALEKSANDRA PEREIRA ITENS COMPARTILHADOS


Lá selecionei posts sobre design, literatura, novidades tecnológicas e vou postando o que mais pintar que valha ser mencionado e dividido.

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postado por Aleksandra Pereira às 2:34 PM | 3 comentário(s)
segunda-feira, março 31, 2008
Script Frenzy
Script Frenzy é um evento internacional de escrita, um desafio aos roteristas ao porpor que se escreva um roteiro de 100 páginas entre os dias 1 e 30 de Abril de 2008. A iniciativa é sem fins lucrativos, prêmios ou resultados oficiais. Para quem gosta de escrever e trabalhar com prazos como exercício criativo, é uma boa forma de se manter afiado.

No site o roteirista também encontra textos básicos para formatação de roteiros de cinema, televisão e peças teatro.

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postado por Aleksandra Pereira às 2:01 PM | 1 comentário(s)
quinta-feira, março 20, 2008
CORAÇÃO NO ASFALTO
Quando Sabina se mudou para o prédio colado ao seu, Danilo jogava conversa fora com sua turminha no portão, atrapalhando o acesso à garagem. Sabina falou primeiro com Danilo, que não lembra mais o que respondeu. Só lembra que nunca tinha visto menina mais bonita.

Os amigos com o tempo viraram só colegas, pois Danilo vivia com e para Sabina. Assim como a amizade, crescera entre eles o amor, quando passaram a atender por Bina e Dan Dan.


***
Oito anos, desde o dia em que se conheceram e ficaram amigos, namoraram e a aproximaram suas famílias.

Novo colégio, idades dos hormônios em fúria, vontade de experimentar outros ares, olhares. Danilo reluta em assumir suas novas necessidades; Sabina, por ser mulher ou mais atenta, percebera as mudanças.

Discussões, desentendimentos. Danilo pediu um tempo para respirar e aproveitar o afastamento, curtir novos sabores, odores. Saiu com outras garotas, mas nada sério. Não custou a perceber a falta que Sabina lhe fazia. Os passeios não tinham mais a mesma graça, e os beijos ofertados não tinham o mesmo gosto dos roubados de Sabina.

Arrependido, Danilo pensa em como surpreender a amada e tê-la de volta. Preparou uma mochila com tudo o que precisava, aguardou escurecer, e saiu.

Dia seguinte, e os moradores do prédio 51 da Rua Américo Vespúcio e todos os passantes no quarteirão – que andassem olhando o chão para evitar buracos -, leram a seguinte inscrição:


Da janela de seu apartamento, Danilo apreciava sua criação. Não dormira, esperançoso, coração na garganta pulando apressadinho.

Sete e meia da manhã, e a família em torno da mesa do café, alheios ao que se passa no íntimo do jovem benjamim. Campainha. O coração de Danilo chegou primeiro à porta, batendo descompassado. Sabina!

E era mesmo, radiante em seus dezesseis anos, com o uniforme do colégio, lábio superior mordido, olhos atentos, leve e fresca, cheirando a sabonete.


Danilo compreendeu ali, na porta de seu apartamento, que Sabina seria para sempre a fonte de seus desejos, alegrias e temores, a caixa de Pandora que guardava os segredos da existência.

Mas a primeira frase de Sabina,

“Por favor, me esquece”

fez o coração de Danilo esquecer de bater.

Da forma mais doce, porém impiedosa aos olhos e ouvidos de Danilo, Sabina lhe contou sobre Edgar. O conhecera em uma festa na praia, e a distração inicial para seus pensamentos acabou se tornando o principal tema deles. Fala frisando sempre o ê, fechado, forte, “Êdgar”. Estava apaixonada.

Agradeceu a declaração, embaraçada, envergonhada por não saber o que fazer com os frangalhos de Danilo – não só o coração, estava inteiro em pedaços.

Danilo fechou a porta, sabendo que, a cada segundo, Sabina se afastava de seu apartamento, de seu amor e de sua vida. Inventou um mal-estar súbito para justificar a ausência às aulas, trancou-se no quarto e se enterrou na cama, buscando dormir e não mais acordar.

Mas acordou, sem poder impedir a chegada de um outro dia. Quis amaldiçoar Sabina, Edgar, a si mesmo. Queria que sumissem os dois, queria sumir. Vizinhos, sabia que veria sempre Sabina, e seu galante “Edgar”.

Enquanto vivessem por ali, veria os beijos ao portão, o convidado para os almoços de domingo, com Dona Sara se esmerando em preparar sua comida predileta.

Danilo se imaginou vendo os presentes de casamento chegando, os filhos levados para a escola, as saídas para a praia com cadeiras e guarda-sol a tiracolo.

E com o tempo descobriu que a dor de todos esses devaneios e suas possibilidades de se tornarem reais era suportável. Podiam se concretizar em dois, sete, doze anos.

Insuportável mesmo era a janela, e dela poder ver todo seu passado e o agora impossível futuro, contidos naquela frustrada declaração de amor, a lembrar um tempo feliz, quando Sabina era apenas Bina, e Danilo, seu Dan Dan.

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postado por Aleksandra Pereira às 8:44 PM | 13 comentário(s)
domingo, março 16, 2008
Minhas 12 Palavras
A querida amiga Ana do Roccana amorosamente me incluiu em sua lista de amigos para quem pede 12 significativas palavras. As minhas, Aninha, são essas:

Carinho
Serenidade
Discernimento
Leveza
Dedicação
Experiência
Sentimento
Imaginação
Comunicação
Equilíbrio
Solidariedade
Paz de espírito
(tá bom, não foi só uma palavra, mas diz muito para mim...)




São palavras, sentimentos, ações que espero para mim mas, antes de tudo, que espero de mim.

E as minhas queridas pessoas indicadas são a Vivien do "A Casa da Mãe Joana", o Felipe do "Liperama" e a Andréa do "In other worlds"
 
postado por Aleksandra Pereira às 3:51 PM | 3 comentário(s)
sexta-feira, fevereiro 22, 2008
Rosnava convencido sentindo-se o rei da selva quando se deu conta que, mesmo com todas as coelhinhas do mundo, ainda amava aquele rabo-de-cavalo.

Seguiu seu rastro feito cachorro mas ela, rápida como cobra sinuosa na areia, sumiu do alcance de seus olhos de águia.

E ele que antes lagarteava ao sol em uma vida besta agora esgueirava-se pelas paredes, frio, vigilante, trocando dias por noite ao piar suas lamúrias.

A encontrou tempos depois, linda, esguia e pintada ao lado de um conhecido pavão que, de peito estufado, exibia a gata como em uma importante competição de raças.

"Eu nem queria mais mesmo!" - ele disse, colando no rosto um sorriso de hiena. Voltou para casa em passos de tartaruga e com o rabo entre as pernas, zurrando ao vento palavras sem sentido. Burro.



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Now playing: Björk - Human Behavior
via FoxyTunes

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postado por Aleksandra Pereira às 4:20 PM | 4 comentário(s)
sexta-feira, fevereiro 01, 2008
AI, ADELAIDE!
- Adelaide, passa a pipoca. A pipoca, Adelaide!

- Psiu! Quieta!

- Mas eu tô com fome!

- Dá logo essa pipoca prá menina, Adelaide.

- Peraí. Ai, como ele é lindo...

Adelaide, nossa heroína, é uma jovem decidida, curiosa e romântica. Do alto de seus incompletos 16 anos, seu maior sonho é sair de sua cidadezinha e viver uma vida de estrela de cinema, ao lado, é claro, de um ator incrivelmente famoso. Um desejo nada incomum na cabecinha fértil de uma jovem sonhadora.

Seu refúgio são as salas do Cine Marechal. Nelas, seu pensamento voa e ela se imagina vivendo todas as aventuras, curtindo todos os momentos românticos e de grande paixão, contracenando com astros e estrelas tão conhecidos e familiares, num mundo onde todos falam inglês, é claro, inclusive ela. Sua admiração pelo mundo do cinema é tão grande, que muitas vezes Adelaide confunde realidade e fantasia.

Suas melhores amigas são Neide e Cidinha, que dividem com Adelaide o gosto pela sétima arte, mas muito mais realistas e interessadas nos moçoilos da cidade mesmo.

- Ai, que tédio!

- Adelaide, pára de reclamar da vida, mulher.

- É, Adelaide. A vida aqui é tão boa, tranqüila...

- Esse é o problema: não acontece nada nessa porcaria de cidade! Ai, como eu queria que um grande astro viesse me buscar aqui, me tirar desse fim de mundo!

- Adelaide, Alegria não é uma cidade tão ruim assim de se viver.

- Alegria? Essa cidade é uma tristeza de dar dó!

- Ai, Adelaide!

Além disso, Cidinha e Neide partilham entre elas o gosto pela mais marcante paixão nacional: a televisão. Acesso às novelas, notícias, programas humorísticos, logo ali, na sala de suas casas, sem se preocupar em que roupa vestir para agradar os brotinhos. Só mesmo Adelaide ainda não se interessara pela “caixa mágica”, sempre pensando em seu grande amor da semana, ou da última sessão de cinema.

Adelaide é uma moça bonita mas de temperamento forte, como Catarina, de “A Megera Domada”. Ela quer escolher seu amor, não ser escolhida. Alguns já tentaram, mas ela não cede. Entremeando realidade e fantasia, ela vai levando sua vida até que um dia um grande astro a leve dali. Sua persistência em seu desejo é tão intensa, que Adelaide humilha o pobre do aprendiz de padeiro Pereirinha, filho do senhor Pereira. O triste rapaz a segue por todos os lugares, suplicando um olhar, um gesto, uma palavrinha, e nada. Ao seu lado, Adelaide imagina uma vida inteira atrás do balcão, com seus filhos se tornando padeiros, seus netos...

Adelaide preocupa a mãe, Dona Nair. Mal come, vive suspirando pelos cantos. Toda semana, um nome de homem diferente: Guilhermo Alejandro, Felipe Anselmo, Mateus Ventura, Lourenço Aguiar... e sempre apaixonada por todos. Mal come. Diz que se alimenta com o seu amor...

- Menina, amor só enche barriga quando a moça engravida. O que você andou aprontando, Adelaide?

- Ai, Dona Nair!

Sua mãe faz o que pode para conter as loucuras da filha. Vive ajoelhada em frente ao seu altar para Santa Rita de Cássia, com seu terço na mão, pedindo paz e juízo para a filha desvairada:

- Ai, minha Santa Rita de Cássia, ajude a Adelaide! Faça com que ela crie juízo, que esqueça de uma vez por todas essa história de cinema e arrume logo um bom namorado para fazer um bom casamento. Tô vendo que ela vai ficar é solteirona e pra titia, que Silene tá é cuidando da vida dela.

Adelaide, em seu quarto, também reza para sua Santa Rita, mas não aquela mesma de sua mãe:

- Ai, minha Santa Rita, minha Santa Ritinha. Minha Santa Rita Hayworth, faça com que meu príncipe encantado de Hollywood venha logo me buscar, para o meu casamento dos sonhos. Não quero ficar solteirona! Ah, e me faça ficar poderosa como a senhora em “Gilda”, por favor. Amém.

Adelaide possui excepcional talento para copiar os figurinos de suas musas inspiradoras. Vira noites debruçada sobre a máquina, cosendo, procurando o que fazer naquele lugar, o que acaba lhe dando uma boa idéia: já que possui energia e tempo de sobra, além de ser boa em copiar vestidos, por que não costurar para fora? Como diria sua mãe, “distrai a cachola de besteira, e também vai te dar um dinheirinho”.

E assim Adelaide seguiu levando sua vidinha. Foi com orgulho que viu seu trabalho ser requisitado por todas as senhoras de Alegria, tornando seu mínimo espaço de produção no “Ateliê Adelaide – costuras de classe”. Costurava dia e noite e ainda com três ajudantes, pois sozinha não dava mais conta. Mal via Neide e Cidinha, que namoraram, desmancharam, namoraram, até noivarem e se casar, deixando a cidade muito antes de Adelaide, que já se aproximava dos 30. Neide se tornou professora na capital e vizinha de Cidinha, que perseguiu seu sonho e se tornou garota-propaganda na televisão. Vendia de tudo, mas o que mais gostava era de anunciar produtos alimentícios.

A mais nova e, por incrível que pareça, duradoura paixão de Adelaide era Leandro Villar, astro do cinema paulista, protagonista de fitas badaladas como “Sem fronteiras para amar” ou “Colinas da Paixão”, um tipão. Sua mais recente produção, “Amor do interior” procurava um local ainda bucólico para as filmagens, e anunciaram justamente gravar em Alegria alguns trechos. Como Adelaide amava sua cidade!

A praça principal estava escura de tanta gente, fios e equipamentos. Adelaide tenta daqui, se estica dali, e consegue ver o que acredita ser o pescoço de Leandro Villar, o mais perto que já chegara de um astro de cinema. Esperará atentamente que acabem para correr e lhe falar qualquer coisa, se não estiver emocionada para tanto.

Mas aquele dia passava devagar. Horas e horas onde cenas se estendiam, sem Adelaide entender. Quantas vezes repetiam o mesmo trecho, arrastando a câmera, e de novo, e mais uma vez. Nunca havia imaginado que ver uma produção assim, de perto, seria tão... chato. Cansou. Precisava ir ao banheiro.

Adelaide sai correndo por entre a multidão, quando tropeça em um dos muitos fios, ou pés, não se recorda. Só sabe que tropeçou, caiu e bateu a cabeça, o que comprova a fina cicatriz que ficou depois. Acordou com o céu escuro sobre si, de pessoas amontoadas, curiosas. Entre elas, segurando sua mão, Leandro Villar. Só podia estar vendo coisas.

- Me deixem passar, é minha filhinha, Adelaide! - gritava Dona Nair.

- Eu estou bem, estou até vendo estrelas – respondeu uma atordoada Adelaide.

- Calma, minha pequena. Você sofreu um pequeno acidente, mas está bem. Eu a levarei para casa, daremos uma pausa – disse Leandro Villar, voz suave, com todo o charme que ela via na sala escura do cinema.

- Isso, mãe, ele me levará daqui, eu falei...

- Moço, vamos logo, ela tá delirando!

- Se eu estiver delirando, por favor, não me acordem!

Adelaide voltou para casa nos braços de Leandro Villar, super astro, seu astro, o grande amor de uma vida. No caminho já se imagina entrando na mansão deles, recém-casados, os três filhos lindos e bem cuidados, as festas que iriam, a vida que levaria...

Leandro Villar limpa com cuidado o machucado em sua testa, ali, tão perto dela.... Aqueles olhos! Sempre lhe denotavam algo familiar, mas assim, tão próximo, a suspeita crescia, urgia, gritava:

- Perei... Pereirinha?

- Eu.

- Você é Leandro Villar?

- Leandro Villar sou eu, sim.

- Mas por quê?

- A garota por quem eu fui apaixonado era louca por astros de cinema. Um dia, um amigo de um amigo precisava de um figurante para uma produção, eu me ofereci, fui muito bem, e aqui estou.

- Por que Leandro Villar?

- Antonio Afonso Ramos Pereira não é nome de ator famoso, não acha?


Leandro Villar, Pereirinha, pega as mãos de Adelaide.

ADELAIDE
E a garota?

PEREIRINHA
(irônico) O que tem ela?

ADELAIDE
(num muxoxo) Não é mais apaixonado por ela?

PEREIRINHA
Não.

ADELAIDE
Ah, que pena.

Adelaide vira o rosto para esconder as lágrimas. Pereirinha pega seu queixo e a faz olhar para ele.

PEREIRINHA
Hoje ela é uma linda mulher, e eu a amo.

ADELAIDE
Oh, Pereirinha!

Pereirinha e Adelaide beijam-se apaixonadamente.

PEREIRINHA
Ai, Adelaide!

CORTA PARA:

INTERIOR – IGREJA - DIA

Adelaide e Pereirinha no altar, igreja cheia, com Cidinha e Neide como Madrinhas e Dona Nair chorando copiosamente.

ADELAIDE (falando para a câmera) Eu não disse que ainda me casaria com um astro de cinema?

NEIDE E CIDINHA (suspirando)
Ai, Adelaide!

FIM

FADE OUT

DIRETOR (OFF)
Corta! A cena ficou ótima, podemos ir para casa, pessoal!

CRÉDITOS FINAIS


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postado por Aleksandra Pereira às 9:07 AM | 3 comentário(s)
quarta-feira, janeiro 30, 2008
Acho que assisto a filmes demais...
 
postado por Aleksandra Pereira às 9:51 PM | 2 comentário(s)
sexta-feira, janeiro 25, 2008
"Andar com fé eu vou"


Otacílio dizia-se “sem sorte”. Sim, sem sorte, pois todos sabem que dizer-se azarado, dá azar.

Não passava debaixo de escada, corria de gato preto, não mantinha espelhos com medo de quebrá-los e ganhar, assim, sete anos de... você sabe.
Evitava o número 13, levantar com pé esquerdo e praga de mãe, mesmo quando vem da dos outros.

Usava, espalhados pelo corpo, figa, patuá, medalhinha do Anjo da Guarda, retratinho de Nossa Senhora, fitinha do Senhor do Bonfim, trevo de quatro folhas, cabelinho de criança batizada no dia de Natal, ramo de arruda e pé de coelho. Esse último, desistiu de carregar. Se desse mesmo certo, teria salvo o pobre do coelho que guardava quatro.

Nada adiantava, a maré não virava ao seu favor. Perdera o emprego e, junto com o fim do dinheiro, a esposa e os dois filhos. Ameaçava ser preso por não ter como pagar a pensão alimentícia e nem a pensão da Dona Cota, onde vive e mal paga com os bicos que faz.

Os amigos e parentes se afastaram. Quem queria ao lado um imã ambulante de má sorte?

Quando Otacílio conseguia agendar uma entrevista de emprego, acordava atrasado, tinha o salto do sapato quebrado e o ônibus rebocado. Conseguia convencer uma garota a um encontro? A calça rasgava e a única camisa em bom estado ganhava um banho de espaguete.

Otacílio bem que se esforçava, coitado. Ano Novo era o primeiro a pular as 7 ondas, pedindo focas aos santos e orixás, sem distinção. Toda ajuda é bem-vinda para quem está na mão. Corria para casa, subindo a escada comendo uva e romã, tomando cuidado para não derrubar o vinho tinto com 3 grãos de arroz na camisa branca nova, comprada em prestações.

E tudo continuava na mesma, até a virada do último ano. Chateado, resolveu jogar fora todos os seus amuletos. Sentiu-se bem, com pelo menos 2 quilos mais leve. De camiseta vermelha desbotada, bermudão e chinelo de dedo, acompanhou os fogos pela TV, para espanto dos outros moradores.

E seguiu assim a vida. Meses depois o encontrei num shopping center, fazendo compras ao lado de uma bela morena. Admirado com a mudança, quis saber das boas novas, que não eram só boas, eram ótimas: Otacílio recebera de herança uma gorda quantia, deixada por uma tia avó que vivia distante, chegada a sua falecida mãe. No aeroporto, indo para a pequena cidade de sua afastada parenta, reencontrou Irene, namorada dos tempos de colégio, recém-divorciada e bem de vida.

Um amor antigo, uma herança ligada ao passado. O atual racional Otacílio não acredita mais em amuletos e superstições, preferindo levar a vida de uma forma mais tranqüila. Mas toda virada de ano passa de bermudão, chinelo de dedo e a velha e desbotada camiseta vermelha. Só por garantia.



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postado por Aleksandra Pereira às 10:53 AM | 5 comentário(s)
terça-feira, janeiro 15, 2008
MINHA VIDA É A SUA NOVELA
O elevador era panorâmico mas ela não conseguia apreciar a vista, o que restava do sol a lamber os edifícios – por falta de vontade, talvez, ou pelas lágrimas que encharcavam as carnudas bochechas e desenhavam veios coloridos na maquiagem que se desfazia.

Ela ainda sentia no dedo o calor da aliança recém-arrancada, última evidência dos sonhos desfeitos, daquele amor de telenovela.

Mas apesar dos clichês,
sua vida não era uma obra de ficção.

...

- Pois não, o senhor já pediu?
- Não, cara, ainda tô pensando. Escuta, aquele prato ali da outra mesa parece gostoso. (...) Moça? Com licença?

- Oi?!?
- Desculpa, mas que prato é esse que pediu? Parece bom.
- E é: strogonoff de frango, batatas com gergelim e arroz com ervas.
- Escolhido: será esse. Um igual, por favor.

- Pois não.

- Você quer experimentar?
- Posso?
- Tudo bem.

- Com licença... Humm, hummm. Muito bom. Obrigada.

- De nada.(...) Posso te perguntar uma coisa?

- Claro, somos íntimos agora, até comi do seu prato!
- (...) É o seu rosto. Você não me é estranho.
- Prazer, Lucas. Lucas Santa Helena.
- O Doutor Alberto da novela das 7, mas é claro!
- Entre outras coisas. Só que eu ainda não descobri o mais importante.
- O quê?
- O seu nome.

- Que cabeça a minha!!! Ana.

- Então, Ana, você gosta de Strogonoff, de jantar sozinha, e quando sorri ganha duas charmosas covinhas? Acho que isso já é suficiente pra mim.

- Suficiente pra quê?

- Pra que eu aceite seu pedido e me case com você.

- Você vai se casar comigo?
- Vou, já disse que aceito o seu pedido! Olha elas aí, são dessas covinhas que eu tô falando!

...

Tudo parecia tão perfeito. Lucas era o homem dos sonhos de Ana: inteligente, charmoso, engraçado. Mas Ana dera o azar de ser uma moça simples, de gosto simples, no meio do processo da criação de um mito.

O namoro em segredo não durou muito - o assessor de Lucas se encarregou de logo dividir a novidade. E toda a exposição que trazia o sucesso do amado lhe incomodava mais a cada dia: um simples passo seu até a rua garantia fotos de primeira página sobre qualquer coisa que estivesse fazendo – cortando os cabelos, pondo o lixo na rua, jantando com amigas.

Suas amigas, elas também mudaram. Antes eram poucas – raras, essa é a verdade; agora amigas de infância perdidas no tempo reencontram seus passos, seu endereço, seu perfil no Orkut. Retomam conversas esquecidas e adiadas com o frescor de algo deixado no ar, ali, agorinha, e que a distância e o isolamento não apagariam por nada.

De todos Ana sentia poder só contar com a amiga Raquel. Estudavam na mesma universidade, cresceram vizinhas de porta, as mães trabalhavam juntas. Raquel lhe ouvia, aconselhava, mas ainda assim o desconforto de Ana não diminuía.

As coisas realmente se complicaram quando começaram a pipocar notas dos encontros entre Ana e Lucas com fotos e detalhes íntimos, coisas que só eles saberiam. Ela sabe que não foi, Lucas jura também não; dali um tempo de novo, mesma coisa, mas como?

O namoro estremece um pouco com o crescendo da desconfiança, mas Ana sabe que ser namorada de celebridade não lhe virara a cabeça. Ao menos, a sua não: a mãe dava entrevistas na televisão, expondo suas fotos de infância; seu irmão descobrira recentemente um bem oculto talento artístico, e já confirmara inscrição para o próximo BBB e já abusava do manjadíssimo “você sabe com quem você tá falando?”.

Ela tentava levar sua vida como sempre levara, fazendo as mesmas coisas, seguindo os mesmo caminhos. Ainda insistia em fazer o trajeto trabalho-casa de ônibus, mesmo quando Lucas lhe disponibilizava seu carro e motorista – luxo pequeno, como ele gostava de dizer.

Seu pensamento discorria entre tantas novas informações que custou perceber o insistente olhar de duas senhoras nos bancos em frente ao seu:

- Ana, querida, tudo bem? Vem cá, me mata uma curiosidade: como é namorar o Doutor Alberto?
- Na verdade, eu namoro o ator que o faz.

- E não é a mesma coisa?
- Não, não é não.

- Deixa ela falar, Dirce!! Conta pra gente: o Doutor Alberto beija bem?

- Com licença, eu preciso descer, me desculpem, com licença, com licença.
- Toda.

- Tchau.

(...)
- Ela parece mais magra pela TV.

- Menina, também achei. (...) Orgulhosa, né?



Ana salta do ônibus, desorientada. Sua anteriormente pacífica vida de pernas para o ar, tudo por causa de um jantar dividido, um sorriso cercado de covinhas e um sim a uma pergunta que nem fora realmente feita, mas que urgia resposta.

Sem saber o que fazer, sem conseguir pensar, Ana liga para Raquel, derramando palavras e frases sem sentido. Raquel pede que se acalme, que fosse até ela, veriam juntas o que seria possível ser feito. Chegando ao trabalho de Raquel, Ana descobriu que mesmo sua melhor amiga não poderia lhe trazer conforto: esta lhe mostra a última edição de uma revista de fofocas recheada com fotos íntimas dela com Lucas. Foi o cúmulo do absurdo, a gota d’água. Ana não acredita que Lucas possa ter feito aquilo, logo agora que havia lhe pedido em casamento e seu anel... seu anel era tão lindo.

Ana larga o anel na mesa de Raquel e sai, desbaratada.

...

Ana saíra tão confusa que nem percebera a chegada de Lucas, revista amassada na mão, fincando o pé a cada passo.

Ele a vê saindo e, mesmo sem lhe falar, tem a certeza da traição da namorada.

...

Lucas fora até a redação da revista a pedido de Raquel. Ela sabia que era a possibilidade de Lucas pegar Ana ali, um flagrante, entregando fotos para a amiga jornalista. Não foi assim que aconteceu, mas assim que Lucas viu. Ele precisava ver o anel para confirmar a traição de Ana, e necessitaria de consolo e um ombro amigo.

E foi consolado por Raquel, que lhe mostrou várias fotos - tirada por ela mesma -, seguindo o casal. Lhe mostrou o anel. "Eu não queria te contar assim, mas foi a própria Ana quem planejou tudo", dizia, solícita ao amparar Lucas em sua dor.

Lucas sem saber mais em quem acreditar, aceita a versão de tão disposta amiga.
Raquel ganha Lucas e notoriedade. Programou o casamento para um mês antes da sua estréia como apresentadora e alguns meses depois da sua primeira capa oficial de revista, onde revelaria os "atributos que enlouqueceram o ator Lucas Santa Helena".


Ana não assiste mais televisão.


A dor da gente não sai no jornal
Chico Buarque (“Notícia de Jornal”)




"Hoje parece que as pessoas querem saber mais sobre quem (um famoso) namorou, casou ou divorciou do que das coisas que acontecem no mundo. É ridículo. Você sabe por que isso acontece? Porque as pessoas têm medo de olhar para dentro delas mesmas. Preferem viver a vida das outras pessoas. Elas não estão despertas para o mundo, para as suas vidas. São como zumbis"
Gisele Bündchen,
em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.

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postado por Aleksandra Pereira às 12:23 PM | 3 comentário(s)

Quarenta anos se passaram entre ontem e hoje. Há quatro décadas que não via este rosto, mas parece que foi ontem que tomamos nossa última xícara de chá juntos, na saudosa, elegante e glamourosa Barão de Itapetininga.

Ela me olha com carinho enquanto escolhe uma mesa no canto do restaurante, o seu predileto. Seus olhos estão ligeiramente cansados mas ainda de um azul profundo, onde me perdia nas nossas infindáveis noites de amor.

Era também recém-chegada na cidade, como eu, que vinha do interior. Ela imigrara da Europa em busca da paz e do trabalho que já não mais encontrava em sua terra. Vindos de extremos, fomos nos encontrar na cidade-coração do país, cheios de desejos e esperanças, de vontade e temeridade. E São Paulo nos acolheu, de braços e peito abertos.

Nos conhecemos enquanto caminhávamos pelo Viaduto do Chá, onde caminhamos agora. Paramos no mesmo local de nosso primeiro beijo, em frente ao Edifício Conde Prates, quando fitei profundamente seus olhos, e me apaixonei.

Silencioso, ouvia seus passos. Mesmo depois de tanto tempo, nem que tentasse confundiria os sons de seus passos com os de outros. Estavam marcados para sempre em meu coração.

Ela sorri. Hoje, seu português perfeito, nem de longe lembra o forte sotaque alemão que me pedia para traduzir as palavras de Neruda na apresentação no Pacaembú: "Ya no la quiero, es cierto, pero talvez la quiero"*. Me lembro bem que sorria. Sorria muito.

Mas por que nos separamos? Por cenas sem motivo, ou por qualquer motivo. Nervos. O que hoje seria comumente chamado de stress foi a causa de nossa separação, em plena Avenida Paulista. Um adeus, sem maior explicação.

Hoje vejo o arrependimento em seus olhos, após tantos anos de escolhas, após anos daquela escolha. Mas agora quem dá as costas a seu olhar de esperança em um recomeço, à uma reescritura de nossa história, sem remorsos ou dúvidas sou eu, voltando para aquela que acompanhou toda nossa história de amor, mas que nunca, em nenhum momento, me abandonou: minha querida São Paulo, que me acolheu e me amou.


* "Poema No. 20" de Pablo Neruda
FOTO: Raul Touzon

____________

Lembro que escrevi esse texto para um concurso do Estadão para o aniversário de São Paulo. Nunca mandei. Estava em uma fase onde deixava espaço demais para as pessoas me atingirem, suas ofensas me atingirem. Pessoas que nunca provaram serem boas profissionais, e com o tempo também mostraram não serem boas pessoas. O tempo conserta as coisas, e muitas máscaras caem. Por outro lado, aprendi a dar o real valor para aquelas que realmente importam. E vamos em frente!

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postado por Aleksandra Pereira às 5:57 PM | 1 comentário(s)
quarta-feira, dezembro 26, 2007
Filosofando...

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postado por Aleksandra Pereira às 5:00 PM | 2 comentário(s)
segunda-feira, dezembro 24, 2007
Boas Festas!
Desejo para vocês tudo o que eu desejo para mim!

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postado por Aleksandra Pereira às 10:11 AM | 1 comentário(s)
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Remédio
Algumas pessoas a gente ainda não conhece mas, por algum motivo, parecem íntimas, não é assim que acontece?

Bom, a pessoal que inspirou esse post não faz idéia de quem seja essa que vos escreve (ainda) mas fez e ainda faz uma diferença enorme, colossal, em minha vida. Desde que comecei os tratamentos para a depressão - antes deles, até - eu procurava alternativas para levantar o astral sem precisar me apoiar em medicações.

Escrevendo um conto - que acabou virando um roteiro - uma das personagens cresceu inspirada nesse homem. E terminei o roteiro com a seguinte observação: o quero como o senhor Morales de qualquer jeito!

Ele é cantor, ator, já com anos de estrada na bagagem. Divertido, charmoso, adorado por uns, odiado por outros, e muitos ainda o adoram às escondidas, assim como eu fazia.

Hoje, tentando apoiar uma grande amiga, receitei para ela esse potente antidepressivo. Não tem como ouvi-lo e não começar balançando a cabeça, batendo o pezinho, tentar acompanhar uma música. Ou cantar inteira, fala a verdade!

O remédio pode ser encontrado na seguinte embalagem:


Sem excessos não possui contra-indicação mas, se for se exceder,

me chama!

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postado por Aleksandra Pereira às 6:42 PM | 4 comentário(s)
terça-feira, dezembro 18, 2007
COISAS QUE O CORAÇÃO SABE DE COR
Mais um dia de faxina. Cordélia separa o lixo e nele despeja fotos, cartas, discos, lembranças, e os cacos de seu coração partido.

Apostara todas as suas fichas em um homem antes gentil, amoroso, companheiro. Passou a dormir sozinha, grossas lágrimas esquentando o travesseiro.

Se indagava onde errara, o que dissera, o que não perguntara, questões que sabia de cor. Jurara não se envolver, se apaixonar. Mais uma vez se doara, inteira, entregue.

Cordélia se fechou em sua tristeza, em seu mundo sem cor. Enfiou a cabeça no trabalho, mas ao fim de um mês pediu demissão. Faltava amor ao que fazia.

Seu caminhar, esperançoso e confiante, tornara-se tímido, acanhado, inexpressivo. Procurava não chamar a atenção, mantendo no rosto a máscara mais comum do mundo.

Mas mesmo sem intenção, sem querer, Cordélia chamara a atenção de Luiz Gustavo. A apatia da moça lhe inspirava compaixão e vontade de conhecer a mulher que se escondia sob a capa de melancolia. E, sem saber o que fazer, lhe sorriu. Um sorriso que incomodou Cordélia.

E Luiz Gustavo continuava a sorrir. Na entrada do prédio, lanchonete, supermercado. Na barraca de frutas, posto médico, biblioteca. Cordélia não entendia o motivo dele sempre lhe sorrir, e como ele sorria!

Sabia que o rapaz a intrigava. Sonhava com suas covinhas, seus profundos olhos negros, seu olhar impaciente, à espera. “Esperando o quê?”, a moça se indagava.

Cordélia sentiu seu peito doer. Maltratado e sofrido, Cordélia esquecera de seu pobre coração, que ansiava por voltar a pulsar, bater com vontade.

Não, isso não é amor. É hora de largar o cigarro”. E marcou um checkup para tranqüilizar o coração iludido. Pela primeira vez na vida queria uma justificativa em um mal físico, não uma comoção adolescente por causa de um sorriso.

Um sorriso. Já se enganara com tantos outros antes, não poderia ser aquele o certo. No máximo o homem por trás daquele riso delicado a julgara fácil, carente. Como todos os outros.

Os exames lhe viram do avesso. Nada.

Mais saudável do que eu”, brincara um dos médicos.

Seu coração está muito bom”, disse a voz entrando na sala onde ela aguardava. “Coração de menina. Ainda procurando um grande amor na vida?”.

Colérica, indignada, Cordélia quis o pescoço daquele médico que lhe falava assim, pelas costas, de seus próprios sentimentos e...

E antes de dizer alguma coisa, Cordélia se calou.

Não se preocupe. Seu coração está em boas mãos”, disse Luiz Gustavo, sorrindo.

Doutor Luiz Gustavo. O misterioso dono do sorriso instigante, o estranho a quem Cordélia entregou seu coração, que sabia como ele pulsava, em qual ritmo, e agora por quem ele batia.

Cordélia corou, respirou fundo. Identificou o sentimento: era amor mesmo. O que poderia fazer? Afinal de contas, quem um dia entenderia mais daquele sofrido coraçãozinho, do que seu cardiologista?


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postado por Aleksandra Pereira às 1:43 PM | 0 comentário(s)
"Ao contrário de outras datas, não há o que comemorar,
é um dia de luta, denúncia e reflexão.
(...) A Aids ainda não é uma questão superada.
É preciso combater a visão equivocada de que
a epidemia está controlada.
Ainda não é fácil viver com o HIV e a Aids".

Marcio Villard
Presidente do Grupo Pela Vidda/RJ

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postado por Aleksandra Pereira às 1:32 PM | 2 comentário(s)
sábado, novembro 24, 2007
Papo sério
Começar esse post foi difícil, mas com o passar dos minutos a vontade de escrevê-lo cresceu.

Queria dar uma justificativa para o meu afastamento do blog, para todos os incríveis companheiros de leitura que conquistei desde que o “Lágrimas” nasceu, e fui percebendo que precisava me justificar também para amigos próximos e, principalmente, para mim.

Não foi só daqui que me afastei. Ultimamente estive afastada de tudo. Perdi oportunidades, festas, até amigos, que entenderam falta de interesse ou carinho.

Sempre fui uma pessoa tímida. Desde pequena a principal característica era um livro nas mãos, óculos no nariz e silêncio. Nunca me senti sozinha assim, mesmo sabendo que precisava interagir mais com as outras crianças. E olha que eu brinquei muito de ”Rouba Bandeira”, “Taco”, “Queimada”, cheguei a montar um grupo feminino cover do “New Kids on the Block” (é ridículo, eu sei!), e comecei a “interagir” cedo com... rapazes. Uma garota normal.

Mas sempre carregava nas tintas da melancolia. Como parecia ser um traço da minha personalidade e não me atrapalhava em excesso, segui assim. Com o passar do tempo e a soma de fatores sérios como constantes crises de enxaqueca, me parecia mais do que normal me resguardar, preferir a tranqüilidade, admirar o silêncio. Aproveitei bem minha adolescência, poderia entrar na idade adulta mais calma, sem arrependimentos por algo que não tenha feito.

Mas as crises de enxaqueca aumentaram, e com elas a quantidade de nomes de remédios e médicos. Junto aos Machado, Woolf, Calvino, as bulas eram lidas com minúncia – pesquisadas, perguntadas, contestadas. E com a troca de remédios que ajudavam pouco – ou que atrapalhavam outro tanto – novos sintomas foram aparecendo: tristeza constante, falta de energia, irritação, insônia ou excesso de sono.

Aí para quem passa também por isso tudo vira uma bola de neve com você dentro, sem saber onde começa e termina alguma coisa: a auto-estima vai para o pé, fica difícil se concentrar ou tomar decisões, e o sentimento de falta de esperança cresce – não só ele, a gente também, pois o desconto na comida faz com que o peso aumente, diminuindo mais ainda a auto-estima, perdendo a esperança e...

Pois é.

De lá para cá já procurei inúmeros médicos, tomei fórmulas, remédios, tive crises de enxaqueca, de pânico, até crise por ter crises.

Aí começo a ouvir falar bastante sobre DEPRESSÃO. “Fulano tem depressão e não sai da cama”, “Sicrano se matou por causa da depressão”.
Putz. Será que é isso o que eu tenho?

Pesquisando, descobri que, segundo o DSM-IV - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (4ª edição), existem alguns critérios para se diagnosticar uma depressão. Criaram uma tabela e dela, cinco ou mais dos sintomas relacionados devem estar presentes. Dentre eles, um é obrigatório: estado deprimido ou falta de motivação para as tarefas diárias, há pelo menos duas semanas – detalhe: eu falo de ANOS. Os sintomas são:

- Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo;
- Anedônia: interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de rotina;
- Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;
- Dificuldade de concentração: habilidade freqüentemente diminuída para pensar e concentrar-se;
- Fadiga ou perda de energia;
- Distúrbios do sono: insônia ou hipersônia praticamente diárias;
- Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;
- Perda ou ganho significativo de peso, na ausência de regime alimentar;
- Idéias recorrentes de morte ou suicídio.

De acordo com o número de itens respondidos afirmativamente, o estado depressivo pode ser classificado em três grupos;
1) Depressão menor: 2 a 4 sintomas por duas ou mais semanas, incluindo estado deprimido ou anedônia;
2) Distimia: 3ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido, durante dois anos, no mínimo;
3) Depressão maior: 5 ou mais sintomas por duas semanas ou mais, incluindo estado deprimido ou anedônia.

Alguns fatores de risco para depressão:
- História familiar de depressão
- Sexo feminino (pois é)
- Idade mais avançada
- Episódios anteriores de depressão
- Parto recente
- Acontecimentos estressantes
- Dependência de droga

E ainda a disfunção neuroquímica, muito provavelmente uma disfunção do sistema serotonérgico:

“A depressão é uma patologia que atinge os mediadores bioquímicos que agem na condução dos estímulos através dos neurônios que possuem prolongamentos que não se tocam. Entre um e outro, há um espaço livre chamado sinapse absolutamente fundamental para a troca de substâncias químicas, íons e correntes elétricas. Essas substâncias trocadas na transmissão do impulso entre os neurônios, os neurotransmissores, vão modular a passagem do estímulo representado por sinais elétricos.
Na depressão, há um comprometimento dos neurotransmissores responsáveis pelo funcionamento normal do cérebro.”



Desde então, e com base nos diagnósticos feitos pelos Psiquiatras, oscilo entre a Distimia e a Depressão Maior. Bom, não importa como é chamada, ainda assim é um problemão.


O pior é que o sentimento de inadequação e desconforto agigantam, me fazendo perder prazer ou interesse por coisas que me davam tesão de fazer, ver, conhecer. Me isolei socialmente, querendo só ficar em casa, sem receber visitas ou atender ao telefone nas minhas piores fases. Por isso devo desculpas a alguns amigos, ex-namorados e pessoas pelas quais tenho a maior consideração do mundo, por deixá-los na mão em alguns momentos. No dia do meu último aniversário um grande e fenomenal amigo me ligou me parabenizando, e nós combinamos de nos encontrar no evento de Cinema que estava rolando por aqui. Eu não fui. Não tive coragem. Congelei. O deixei me esperando sem entender o que aconteceu, enquanto eu não havia nem saído de casa. Fiquei com medo. De me expor, de ficar chata, sei lá. Fugi.


Depressão não é só tristeza.
É uma doença, recorrente, que precisa de tratamento. Não desculpa as ações ou a falta delas, mas explica muita coisa. Eu tenho a imensa sorte de contar com amigos que não desistem de mim, por algum estranho motivo. Me cutucam, me ligam para um oi, me mandam mensagens de carinho. Tem muita gente boa por aí, e por aqui.


Acredito também que dei sorte com meu atual Psiquiatra. Tanto as conversas com ele quanto a medicação, surtem efeitos positivos. Eu sei que o processo é longo, a doença é recorrente, e virou assunto deste post para, se possível, ajudar alguém a procurar ajuda. Procure um Psiquiatra de confiança – se não concordou com o diagnóstico, troque. Fique em contato com os seus sentimentos para entender como as coisas acontecem de seu modo particular, pois cada caso é um caso. Busque grupos anônimos específicos espalhados pelo país, encontre pessoas que passam pelo mesmo problema, faz uma diferença enorme.

Para os amigos, estou bem.
Para os inimigos, que por algum motivo não querem me ver numa boa, azar o de vocês: eu estou bem.



Beijo grande.


Alguns links:
http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?137
http://www.tj.sc.gov.br/institucional/diretorias/ds/enfermagem/dicas/depressao.htm
http://www.portalnatural.com.br/mostramateria.asp?codigodamateria=27
http://www.neuroticosanonimos.org.br/

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postado por Aleksandra Pereira às 2:02 AM | 15 comentário(s)
quinta-feira, novembro 22, 2007
Já estamos de volta, e operando normalmente!
Agradecemos a compreensão,
e a preferência!
 
postado por Aleksandra Pereira às 4:40 PM | 7 comentário(s)

LÁGRIMAS LAVADAS© 2006, por Aleksandra Pereira. All rights reserved.