terça-feira, janeiro 30, 2007
Nós
Alexandre - Ana - Andréa - Carlitos - Claudia - Cynthia - Daniel -
Denise - Denise - Edval - Flávio - Frank - Handrik - Inagaki - Isa -
Ivan - Jannine - Leo - Luis Felipe - Maitê - Mariana - Paty - Pinta -
Tárcio, Raimundo e Cia. - Vivien - Xôn



Amigos que estão por aqui sempre, volta e meia. Que me deixam comentários, e-mails, cafuné e força. Que a cada texto me respondem sobre justamente aquilo que queria dizer, e o melhor, me acrescentam coisas, traços, vida.

Obrigada é muito pouco para agradecer todo o carinho de vocês.


Tão sentindo falta de alguém?

Eu sei. Falta o Lipe. Mas o Lipe, além de fazer parte dessa constelação de pessoas bacanas, merece esse adendo mais que especial, pela belezura de texto que me escreveu e que agora está lá no Do fim até o começo.

Para quem chegou agora, o Do fim até o começo é uma reunião de alguns textos que já passaram por aqui, que guardavam particularidades entre eles, e que me pediam esse tratamento diferencial. Separei-os, criei o site, e pedi para quem quisesse que me mandasse depois um texto para a orelha.

Ensaiei meu e-mail para pedir ao Lipe, mas cadê coragem?
Quem o lê lá no Liperama sabe como sua alma é aberta e sensível para enxergar detalhes inesperados, para admirar a vida que pulsa, para descrever com os olhos do coração.

E mesmo atribulado, correndo com suas coisas e sua vida, Lipe me mandou a orelha (lendo assim ele até parece o Van Gogh...). Texto lindo, minha gente. Li, reli, imprimi, distribuí para a família. Sério.

Disse a mim mesma que ainda não a havia colocado no blog por falta de tempo, mas não era isso. Era por me enxergar tanto naquelas palavras, por me ver entendida ali, por ver a minha arte apreciada. E vi que minha vergonha era boba.

E que o Lipe tem um coração enorme.

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postado por Aleksandra Pereira às 12:03 PM | 13 comentário(s)
domingo, janeiro 28, 2007
GUERRA & PAZ - BARBARidades
Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.
(Oscar Wilde)


Betina sonhou não lembrar se tinha dezesseis ou trinta anos. Acordou com cinqüenta. Na verdade, quarenta e nove anos, onze meses e vinte e seis dias. O que fez em todos esses anos, o que conquistou? Foi feliz? Na correria louca de seu louco mundo, não tinha parado para refletir sobre os rumos de sua vida.

E o que era todo aquele questionamento? Tristeza ou falta de estrógeno?

Só se lembra que tudo aconteceu tão rápido...

Após um ano e meio de casamento, seu marido fora embora, deixando-a sozinha com a pequena Rafaela. Betina viveu o estigma de ser chamada “separada”, “mãe solteira” em uma época de profundas mudanças no país e dentro dela. Para sobreviverem, trabalhava fora em dois empregos, deixando a filha pequena aos cuidados de Maura, a babá e melhor amiga de todas as horas.

Bem, de quase todas.

- Alô? Maura?
- Tina? ‘Cê sabe que horas são?
- Meu relógio parou.
- Então troca de pilha, Tina, e me deixa dormir.
- Não é desse relógio que eu tô falando, criatura, é o da vida.
- Tina?!? Você morreu? Tá ligando do Além?
- É sério, Maura.
- ‘Cê tá bem, Tina?
- Além da pele seca, o excesso de peso, o coração que galopa, acordar empapada de suor, e uma montanha-russa emocional? Tô ó-ti-ma!
- Aham...
- Maura, acorda!!!
- Hã? Eu não tô dormindo. Escuta Tina, ‘cê tá ligando do Além a cobrar?
- Eu não sou fantasma, Maura.
- Não? Ah, então liga amanhã! Tchau.
- Maura? Alô? (...) Palhaça.


Betina vivia para filha, hoje seu mundo é a neta. Esqueceu o que era sair, curtir a vida, namorar, sempre ocupada com o trabalho, contas, médicos. O tempo simplesmente foi passando e lhe deixando para trás. Filha, esposa, mãe, avó. Betina via sua vida e todos os seus diferentes papéis em sua frente. Mas o que seria dela agora? O que fazer?

Sua atual vida a entristecia. Mesmo tendo saúde, um confortável apartamento, ou uma boa renda com sua loja de bolsas. O que Betina não compreendia era o que fazer com aquela estranha que a olhava no espelho todos os dias.

Deprimida às portas da quinta década, Betina custava a sair de casa ou do telefone, em longas conversas com a amiga Maura. Fabiana a encontrava sempre perdida sob as cobertas:

- Vó, sai já dessa cama, vem tomar um banho gostoso e comer alguma coisa quentinha.
- Não quero.
- Deixa de manha, Dona Betina. Parece criança. Vamos, tira logo a bunda desse colchão.
- Não fala assim comigo, sou sua avó e sua mãe.
- E se não levantar, baterei na bunda das duas.
- Não vou sair mais da cama, Fabi. Manda trazer minhas coisas do escritório, que agora trabalho daqui.
- Que é isso? Preguiça?
- Não. Crise... de meia-idade.
- Crise de meia-idade, vó? Qualé, isso é besteira. Além do mais, ‘cê não vê jornal, não? Se a média de vida das mulheres tá em uns 73 anos, sua meia-idade, matematicamente, foi lá entre os 36, 37 anos.
- Isso. Pisa.
- Seguinte, vó. Depois da escola, vou pro shopping e depois janto na casa da Carol.
- Não volta tarde.
- E você, nada de comida mexicana de novo. Chega de nachos, burritos e guacamoles. Sai e come algo leve, só pra variar.
- Tá bom.
- Mas é pra sair. Chama a madrinha pra ir junto.
- Tá bom, mãe. Tchau. Bom passeio, divirta-se, juízo e...
- Eu já sei, vó: juízo, cuidado, camisinha, blá, blá, blá...
- Isso mesmo, vai repetindo como mantra pelo caminho. Não vou aguentar ser bisavó agora.

...

- La Violetera, Buenas noches!
- Alô? Oi, é a Betina, aqui da Espírito Santo. Eu quero o combo com dois burritos, e nachos com guacamole, salsa e cheddar. Isso. Rápido.

...

Sentada sozinha na cozinha, após separar pratos e talheres, Betina espera. Contar o tempo havia virado sua principal ocupação.

...

A comida do restaurante nem era mais tão boa assim, desde a troca de cozinheira. Juanita abandonara o restaurante e o marido para viver com um confeiteiro francês no interior de Santa Catarina. Antonio Morais, o “Morales”, assumiu o estabelecimento e fazia ele mesmo algumas entregas, principalmente se conhecia os fregueses.

- Como está o nacho, Betina?
- Delícia, Morais. Muito gostoso.
- Experimenta com o vinho.
- Eu não pedi vinho.
- Não reclama e experimenta.
- Humm. Bom.
- Fica com a garrafa. (...) Melhor?
- Sem fome.
- Bom começo.
- Já não me bastava a lei da gravidade, Morais, meu mundo também caiu... Olha só prá mim. Sábado à noite e eu na cozinha, devorando comida mexicana com o entregador.
- Dono.
- Desculpa, não quis ofender. É que eu remôo demais as coisas, sabe? Penso, analiso, defino. E não tenho feito nada. (...) Tanto tempo que não faço o cabelo, ou compro roupas novas... Esse vestido eu usei no batizado da minha neta. (...) Tô só o pó, como ela diria. O pó. “Não encuca, vó”.
- E ela tá é certa. Não deve ficar esquentando com besteira. Tem muita coisa pra fazer ainda na vida, Betina.
- Você acha?
- Acho. É nova ainda, bonitona.
- É, eu ainda tô respirando, né?
- Como mulher gosta de reclamar, não? Ô, diacho! (...) A conversa tá boa, mas eu vô andando.
- Quanto eu devo?
- Deixa disso, já pagou com o papo.
- Morais, assim você vai falir.
- Mas quem disse que eu não me divirto?
- As agruras de uma mulher de meia-idade te fazem rir? Fora daqui agora! Tchau, e obrigada pela paciência.
- Nada. Outra coisa: não é ruim se ainda cabe no vestido do batizado. Sinal que ainda tá podendo...
- Podendo caber no vestido, pelo menos!
- Você é uma mulher muito bonita, Betina, tem que lembrar disso. Precisando de companhia, sabe onde achar.

- Tá. Quando quiser taco de novo, te aviso.
- Pode ser, também.

...
- Esse Morais tava me cantando ou sendo gentil? Acho que perdi o jeito.
...


Betina bebeu todo o resto do vinho direto da garrafa, e capotou no sofá. A bebida e o estômago pesado somaram-se em um pesadelo daqueles:

Ela tinha dezesseis anos, e ia com sua saia de pregas favorita encontrar-se com Maurício, o namorado secreto aos pais e que seria o grande amor de sua vida por mais 1 ano, 8 meses e 11 dias, até o momento em que ele lhe apresentou Darcy, estudante de Direito, 23 anos e capitão da equipe de Remo. Mas naquele dia Betina ainda nem imaginava Darcy, mas seria aquele o momento da concepção de Rafaela.

Betina passava em frente a uma construção com peões, serventes e pedreiros, imagem clássica de homens suados sob o escaldante sol do meio-dia.

Logo lhe alcança a chuva de assobios e frases redondas de ambigüidades e provocações, que coram as bochechas mas afagam o ego. Até ouvir a estranha frase “Poxa, se fosse mais nova eu até pegava!”.

Como assim, mais nova? Betina olhava para suas mãos, braços e pernas, tocava o rosto, os cabelos, e sentia fresco o viço da juventude.

“Mais nova? Credo, isso dá é cadeia, viu?”

Mas o reflexo dos vidros do prédio vizinho lhe traía: grisalha, abatida, a pele marcada e o corpo curvado pelo tempo. Levava a mão à boca e ela tremia pela exaustão com o breve esforço.

Vê-se definhando, encarquilhando, engolida pela vida que escoa. Ela se toca, e se observa de cima a baixo.

Mas como? Minhas mãos, o meu corpo, eu ainda sou jovem, jovem!!!”, ela questiona, suplica, a visão turva pelas lágrimas. Nada lhe resta a fazer senão chorar.

O choro lhe lava a alma e o rosto se transforma em exultação ao ver-se refletida como é, dezesseis anos, radiante em sua saia pregueada.

Fora somente um delírio, excesso de calor e imaginação. Maurício a espera, precisa ir.
Mas não consegue sair do lugar, tem a estranha sensação de encolher. O ar lhe falta, as mãos envelhecidas, não mais obedecem.

Betina quer gritar, pedir ajuda, mas não tem forças. Está morrendo.

- Vó? VÓ?
- Ah? O quê? O que foi?
- Vó? Acorda, vó. ‘Cê tava tendo um baita pesadelo!
- Quantos anos eu tenho?
- Os mesmo de antes. Até o próximo aniversário.
- Graças a Deus!
- Eu, hein!? (...) Sonhou com o quê?
- Com meu passado, com meu futuro...
- E o presente, nada? Ai, vó, ‘cê pensa demais. Será que quando eu ficar velha, vou passar o resto da vida assim, só pensando?
- Se queria me ajudar, continua, você tá quase conseguindo...
- Vó, já foi. Passou. Você não pode encucar tanto com coisas que aconteceram lá no século 17, esquece isso, pô.
- Século 17?
- Maneira de falar, vó.
- Não podia ser o finzinho do 19?
- Não vai levantar, né?
- Só mais dois minutinhos...
- Deixa pra lá. Tchau, Dona Betina.


Aquela não era maneira de viver. Ainda era jovem, bonita, poderia voltar a estudar se quisesse, agora que as coisas estavam tranqüilas. Sairia para comprar roupas novas, acessórios. Faria o cabelo. Pegaria Maura e viajariam juntas pelo interior do país, rindo como loucas, conhecendo pessoas interessantes, homens interessantes. Estava viva. Viva, como estavam Fabiana e a amiguinha na sala de estar, preparando-se para uma festa. Precisava se lembrar de como fazer isso: viver.

- Dona Betina, a senhora tá uma gatona!
- Gatona?
- É, bonita, poderosa.
- Vai sair, vó?
- Não. Passei a tarde na loja, cansei. Vou ficar por aqui mesmo. Divirtam-se vocês.
- E você vai fazer o quê?
- Não sei. (...) Acho que vou pedir comida mexicana.

_____________________________________


Ufa! Leu até o fim? Beleza. Se gostou, aguarde.
Betina, Maura, Fabiana e companhia ainda aprontarão muito por aqui.

ilustração: Gil Elvgren

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postado por Aleksandra Pereira às 1:59 PM | 14 comentário(s)
sexta-feira, janeiro 26, 2007
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postado por Aleksandra Pereira às 7:49 PM | 8 comentário(s)
quarta-feira, janeiro 24, 2007
ONE

ONE, originally uploaded by aleksap1609.

Um

Um é o número mais solitário que você já viu
Dois pode ser tão ruim quando Um
Pois é o número mais solitário depois de Um

Não, é a experiência mais triste que você vai conhecer
Sim, é a experiência mais triste que você vai conhecer.
Pois, Um é o número mais solitário que você já viu,
Um é o número mais solitário que você já conheceu.

Nada ficou melhor desde que você foi embora
Agora eu passo meu tempo, fazendo rimas sobre o passado.

Pois, Um é o número mais solitário que você já viu,
Pois, Um é o número mais solitário que você já conheceu,
Um é o número mais solitário
Um é o número mais solitário
Pois, um é o número mais solitário que você já viu,

Um é muito, mas muito mais solitário que Dois.
Um é o número dividido por Dois.




Não, eu não estou sofrendo uma desilusão ou dor de cotovelo.
Só gosto muito da música e da tristeza, a melancolia das palavras, capice?

 
postado por Aleksandra Pereira às 2:20 PM | 9 comentário(s)
sexta-feira, janeiro 12, 2007
É melhor prevenir...
O post, mais do que uma necessidade de comentar sobre o assunto, surgiu através da querida Denise, do Sturm und Drang!, em uma convocação urgente e importante sobre aquecimento global, efeito estufa e outras besteiras que andamos fazendo com nosso planetinha.

Tenho uma "piada interna" com meu pai, sobre água. Meu pai tem mania de deixar torneira aberta escoando, escoando, escoando. Me dá desespero. Pego no pé dele como se fosse criança. Uso todos os argumentos possíveis, mas volta e meia ele esquece, e lá estou eu puxando sua orelha.

Meu pai tem 58 anos, não é velho. Sempre que ouve falar de calamidades futuras, internamente pensa "não estarei mais aqui". Não sei se ele já perdeu a esperança nas filhas e desistiu de aguardar netos, bisnetos e a continuidade dos Pereiras, mas o que acontecer depois de sua passagem, não lhe diz respeito.

Já usei até argumentos espiritualistas para convencê-lo: quem garante que, na próxima encarnação, não estará ele aqui mesmo, sofrendo por falta de água, seca, porque sua existência anterior não quis colaborar com o planeta? - Esse pensamento pode soar estranho para quem não acredita em reencarnação, mas amigos, eu acredito, e digo isso com seriedade.


Mas mesmo para quem não acredita, desperdiçar recursos naturais é um ato egoísta. Exponho aqui a opinião do meu pai, que vejo mudar (amém!) com o tempo, por saber que é a posição de muita gente, ainda que de forma não declarada.


Eu moro em apartamento, com diversas células familiares por perto. Não é difícil adivinhar posturas, estudar hábitos. Não se vê praticamente ninguém selecionando com responsabilidade lixo limpo do orgânico, material que pode ajudar milhares de famílias carentes e ainda diminuir a quantidade de entulhos. E toda a água desperdiçada na lavagem dos prédios, aquela mangueirinha preguiçosa empurrando folhinha caída?

Não significa que o que está por aí de graça possa ser arrancado, queimado, asfaltado, extinto. Quem achou que poderia pintar e bordar agora, e que os sintomas da doença demorariam a aparecer, dançou. Os dias estão cada vez mais quentes, a própria dona natureza anda confusa e achando que as estações puf!, surtaram. São chuvas torrenciais que invadem casas, escolas, destroem e adoecem, enquanto em outras paragens é a seca que impera, tirando o alimento de quem quase não tem. E ainda: emissão de gases, derretimento de geleiras, propagação de insetos transmissores de doenças infecciosas...

Esse panorama não é novo, só vem piorando.


Uma esperança?

Um estudo apresentado por Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, a pedido do governo britânico, destaca os possíveis impactos do aquecimento global sobre a economia. Nada menos que 700 páginas onde Stern defende que combater o efeito estufa é a coisa mais inteligente a ser feita do ponto de vista econômico.

Para o autor, a única forma de tornar isso realidade seria uma grande aliança internacional em torno do mesmo objetivo, com ações efetivas inclusive de países mais pobres, contando também com uma ampla cooperação tecnológica entre todas as nações.


O envolvimento de todos é óbvio e fundamental. Talvez agora, falando em termos econômicos, a coisa ande. Falar de lucro e prejuízo mexe com as pessoas.

Faça a sua parte

É preciso ouvir a sabedoria popular, minha gente. É melhor mesmo prevenir do que remediar. A resposta e os sintomas mais graves dessas doenças podem vir em dez anos, cinco, um. Amanhã. E se você ainda estiver por aqui, azar.


arte de Clay Bennett

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postado por Aleksandra Pereira às 6:34 PM | 14 comentário(s)
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Carrossel do Destino
Composição: Antonio Nóbrega e Bráulio Tavares

Deixo os versos que escrevi,
As cantigas que cantei,
Cinco ou seis coisas que eu sei
E um milhão que eu esqueci.
Deixo este mundo daqui,
Selva com lei de cassino;
Vou renascer num menino,
Num país além do mar...
Licença, que eu vou rodar
No carrossel do destino.

Enquanto eu puder viver
Tudo o que o coração sente,
O tempo estará presente
Passando sem resistir.
Na hora que eu for partir
Para as nuvens do divino,
Que a viola seja o sino
Tocando pra me guiar...
Licença,que eu vou rodar
No carrossel do destino.

Romances e epopéias
Me pedindo pra brotar
E eu tangendo devagar
A boiada das idéias.
Sempre em busca das colméias
Onde brota o mel mais fino,
E um só verso, pequenino,
Mas que mereça ficar...
Licença,que eu vou rodar
No carrossel do destino.

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postado por Aleksandra Pereira às 10:52 AM | 18 comentário(s)
segunda-feira, janeiro 01, 2007
ANDAR COM FÉ EU VOU
2ª Publicação

Otacílio dizia-se “sem sorte”. Sim, sem sorte, pois todos sabem que dizer-se azarado, dá azar.

Não passava debaixo de escada, corria de gato preto, não mantinha espelhos com medo de quebrá-los e ganhar, assim, sete anos de... você sabe.

Evitava o número 13, levantar com pé esquerdo e praga de mãe, mesmo quando a mãe era a dos outros.

Usava, espalhados pelo corpo, figa, patuá, medalhinha do Anjo da Guarda, retratinho de Nossa Senhora, fitinha do Senhor do Bonfim, trevo de quatro folhas, ramo de arruda e pé de coelho. Esse último, desistiu de carregar. Se desse mesmo certo, teria salvado o pobre do coelho que nascera com quatro.

Mas nada adiantava, a maré não virava a seu favor. Perdera o emprego e, junto com o fim do dinheiro, a esposa e os dois filhos. Ameaçava ser preso por não ter como pagar a pensão alimentícia e nem a pensão da Dona Cota, onde vivia e mal pagava com os bicos que fazia.

Os amigos e parentes se afastaram. Quem queria ao lado um imã ambulante de má sorte?

Quando Otacílio conseguia agendar uma entrevista de emprego, acordava atrasado, tinha o salto do sapato quebrado e o ônibus rebocado. Conseguia convencer uma garota a um encontro? A calça rasgava e a única camisa em bom estado ganhava um banho de espaguete.

Ele bem que se esforçava, coitado. Ano Novo era o primeiro a pular as 7 ondas, pedindo forças aos santos e orixás, sem distinção - toda ajuda é bem-vinda para quem está na mão. Corria para casa, subindo a escada comendo uva e romã, tomando cuidado para não derrubar o vinho tinto com 3 grãos de arroz na camisa branca nova, comprada em prestações.

E tudo continuava na mesma, até a virada do último ano. Chateado, resolveu jogar fora todos os seus amuletos. Sentiu-se bem, mais leve uns 2 quilos pelo menos. De camiseta vermelha desbotada, bermudão e chinelo de dedo, acompanhou os fogos pela TV, para espanto dos outros moradores.

Otacílio seguiu assim a vida. Meses depois o encontrei num shopping center, fazendo compras ao lado de uma bela morena. Admirado com a mudança, quis saber das boas novas, que não eram só boas, eram ótimas: Otacílio recebera de herança uma gorda quantia, deixada por uma tia avó que vivia distante, chegada à sua falecida mãe. No aeroporto, indo para a pequena cidade de sua afastada parenta, reencontrou Irene, namorada dos tempos de colégio, recém-divorciada e bem de vida.

Um amor antigo, uma herança ligada ao passado. O atual racional Otacílio não acredita mais em amuletos e superstições, preferindo levar a vida de uma forma mais tranqüila. Mas toda virada de ano passa de bermudão, chinelo de dedo e a velha e desbotada camiseta vermelha.

Só por garantia.

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postado por Aleksandra Pereira às 10:49 AM | 16 comentário(s)

LÁGRIMAS LAVADAS© 2006, por Aleksandra Pereira. All rights reserved.