sexta-feira, novembro 03, 2006
GUERRA & PAZ - SEM EXPLICAÇÃO

- FABIANA!?

- Oi, amor.
- Já está pronta?

- Só um pouquinho, amor, não achei o sapato que combina com a saia longa vermelha.

- Vermelha? Fabiana, tem meia hora que eu olhei e era azul, Fabi, azul. Um VESTIDO.

- Me deixou gorda.

- Gorda onde, Fabiana?

- Do dedinho do pé aos pensamentos.

- Ai, meu Deus! Fabi, A ÓPERA. Não irão nos esperar para começar. Fabi...

- Não sei. Acho que vou com o vestido mesmo.
- FABIANA!



Quando conheci a Fabiana, tive certeza de que não era mulher pra mim: descolada, bem-humorada, sexy. Nunca me olharia. Mas olhou. Sorriu do meu jeito sem graça, da falta de tato; ouviu trechos dos meus três primeiros romances ainda não publicados, da minha peça nunca encenada, da minha vida pouco vivida. Achei que não tornaria a vê-la, mas na semana seguinte estava lá, no lugar que combinamos. Saia jeans, blusinha, elástico nos cabelos presos. Batom marcante e perfume suave, cheirando a promessas.


Fabiana entrou em minha vida feito um furacão. Mal se instalou em casa foi mudando as coisas ao seu gosto, reorganizando meus CDs, escondendo as pilhas de gibis. Me sentia “a visita”, perdido. Tirou a cama do lugar por causa do “feng-shui”, comprou um grill para diminuir a gordura, transformou o quarto de despejos em sapateira (todos com salto. É mesmo impressionante o que uma mulher pode agüentar só por vaidade!). Um saco.

Tá bom. A casa ficou aconchegante, eu admito. Só não parece a minha.

O sexo é formidável, mas as discussões são homéricas: “abaixe a tampa do vaso”, “tire a toalha molhada da cama”, “não bebe na garrafa”. Só que é o MEU vaso, MINHA cama, MINHA garrafa. Meus.

O único reino somente meu é o do papel com minhas tentativas de contos, roteiros, peças. Vez por outra uma personagem morena, gostosa e mandona tenta se infiltrar nas histórias, mas eu a exorcizo, sua morena gostosa e mandona.

A Fabiana pode ser mandona, briguenta, mas é uma gracinha. Se derrete de chorar com comercial de margarina, não tem medo de barata e sim de borboleta, além de memória de elefante para coisas bobas. Mas tem uma enorme capacidade de prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo, sempre prova a minha comida antes, põe ordem no meu caos.

Ela me escuta, traduzindo minha língua enrolada. E fica linda só com a camiseta do meu time e uma calcinha de algodão. Pena que leve tanto tempo pra se arrumar.

Se bem que esse põe e tira roupa por não ter o que vestir é um dos meus shows eróticos preferidos...

- Mauríciô?... Me ajuda a fechar o vestido? Tô quase pronta. Isso. Não, amor, é pra fechar...
- Vamos ficar por aqui mesmo.
- Poxa. Por eu me atrasar SÓ UM POUQUINHO?

- Não. É que o programinha caseiro ficou muito mais interessante...

- Bobo!

ilustração: "A Couple"_Fernando Botero



Quer saber quando essa história começou por aqui?
Leia Guerra & Paz_Mentiras sinceras me interessam

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postado por Aleksandra Pereira às 12:56 PM |


4 Comentários:


At sexta-feira, novembro 03, 2006 12:07:00 PM, Blogger Andréa 

Hehe, eita programinha caseiro bão.

At sexta-feira, novembro 03, 2006 12:15:00 PM, Blogger Aleksandra Pereira 

Andréa, minha querida, você é rápida. Ainda estava ajeitando o texto na página quando recebi seu comentário!

Beijo grande.

At sábado, novembro 04, 2006 8:03:00 PM, Blogger Luiz Felipe Botelho 

Hummmm. Falou, Andreia.
Aí a gente vê a diferença entre gostar e amar. Gosta-se de ópera. Isso facilita as escolhas...
Conto massa, Alê. Gosto muito desses diálogos, desse texto dramático flertando com a prosa.

At sábado, novembro 04, 2006 10:41:00 PM, Blogger Aleksandra Pereira 

Ah, meu querido!
Obrigada, me sinto afagada.

Aguarde, pois Maurício e Fabiana ainda aprontarão muito.

Beijo



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