Tenho uma "piada interna" com meu pai, sobre água. Meu pai tem mania de deixar torneira aberta escoando, escoando, escoando. Me dá desespero. Pego no pé dele como se fosse criança. Uso todos os argumentos possíveis, mas volta e meia ele esquece, e lá estou eu puxando sua orelha.
Meu pai tem 58 anos, não é velho. Sempre que ouve falar de calamidades futuras, internamente pensa "não estarei mais aqui". Não sei se ele já perdeu a esperança nas filhas e desistiu de aguardar netos, bisnetos e a continuidade dos Pereiras, mas o que acontecer depois de sua passagem, não lhe diz respeito.
Já usei até argumentos espiritualistas para convencê-lo: quem garante que, na próxima encarnação, não estará ele aqui mesmo, sofrendo por falta de água, seca, porque sua existência anterior não quis colaborar com o planeta? - Esse pensamento pode soar estranho para quem não acredita em reencarnação, mas amigos, eu acredito, e digo isso com seriedade.
Mas mesmo para quem não acredita, desperdiçar recursos naturais é um ato egoísta. Exponho aqui a opinião do meu pai, que vejo mudar (amém!) com o tempo, por saber que é a posição de muita gente, ainda que de forma não declarada.
Eu moro em apartamento, com diversas células familiares por perto. Não é difícil adivinhar posturas, estudar hábitos. Não se vê praticamente ninguém selecionando com responsabilidade lixo limpo do orgânico, material que pode ajudar milhares de famílias carentes e ainda diminuir a quantidade de entulhos. E toda a água desperdiçada na lavagem dos prédios, aquela mangueirinha preguiçosa empurrando folhinha caída?
Não significa que o que está por aí de graça possa ser arrancado, queimado, asfaltado, extinto. Quem achou que poderia pintar e bordar agora, e que os sintomas da doença demorariam a aparecer, dançou. Os dias estão cada vez mais quentes, a própria dona natureza anda confusa e achando que as estações puf!, surtaram. São chuvas torrenciais que invadem casas, escolas, destroem e adoecem, enquanto em outras paragens é a seca que impera, tirando o alimento de quem quase não tem. E ainda: emissão de gases, derretimento de geleiras, propagação de insetos transmissores de doenças infecciosas...
Esse panorama não é novo, só vem piorando.
Uma esperança?
Um estudo apresentado por Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, a pedido do governo britânico, destaca os possíveis impactos do aquecimento global sobre a economia. Nada menos que 700 páginas onde Stern defende que combater o efeito estufa é a coisa mais inteligente a ser feita do ponto de vista econômico.
Para o autor, a única forma de tornar isso realidade seria uma grande aliança internacional em torno do mesmo objetivo, com ações efetivas inclusive de países mais pobres, contando também com uma ampla cooperação tecnológica entre todas as nações.
O envolvimento de todos é óbvio e fundamental. Talvez agora, falando em termos econômicos, a coisa ande. Falar de lucro e prejuízo mexe com as pessoas.
É preciso ouvir a sabedoria popular, minha gente. É melhor mesmo prevenir do que remediar. A resposta e os sintomas mais graves dessas doenças podem vir em dez anos, cinco, um. Amanhã. E se você ainda estiver por aqui, azar.
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