Marcadores: Pessoal
Marcadores: Diálogos ao vento
A poesia é a meta de toda e qualquer arte. Todas se justificam nela. Só posso dizer que uma prosa sem poesia não merece ser escrita. Arte é forma, forma é beleza, beleza é poesia. Espero não pecar quanto a isso. "
Marcadores: Inspirações
Marcadores: Pessoal
As celas se fecham, é chegada a hora, o instante mais difícil: o de tentar dormir o sono dos justos, mesmo sendo todas nós, culpadas. Seu mundo fica mais distante de meu, filha minha, mas aqui sigo cumprindo meu destino por amar alguém demais.
Vivemos em prisões, estando atrás de grades ou não. Impedidos de expressar o que sentimos, dizer o que queremos. O próprio nascer mulher, libertador por sermos nós as geradoras da vida, é a maior de nossas prisões.
Por isso, filha minha, te desejo o que de melhor o futuro possa te oferecer, num pedido muito simples: não siga os meus passos. Rompa com seu passado, queime suas raízes, nasça de novo e, principalmente, não se doe por amor.
Seja forte o quanto puder. Entregue seu corpo, nunca seu coração. Amar foi sempre a perdição de nossa família, filha minha, infelizmente a única herança que te deixo.
Espero que nunca se perca. Continue nossa história por nós, submissas ou violentadas, loucas ou encarceradas.Sobreviva a nós.Com afeto,
Sua mãe.
Marcadores: Contos
Marcadores: Inspirações
Educado, lindo e cheiroso. Bruno seria o homem perfeito para Wanda, se não fosse por um importante defeito: namorava Doralice, amiga - a melhor -, de Wanda.
Wanda não se apaixonara pelo rapaz por cobiça, nem mesmo por querer. Foi uma paixão dessas não procuradas, mas que cercam a gente.
Com o tempo, as saídas das amigas vão rareando, para tristeza de Doralice. Sempre saíram juntas, com seus respectivos pares em noites de casais ou simplesmente uma acompanhando o casal amigo.
Mas como Wanda poderia lhe explicar o embaraçamento, a vermelhidão nítida na face ante o sorriso franco de Bruno ou quando, por cordialidade, Bruno lhe perguntava se queria alguma coisa, Wanda só pensava em lhe entregar a alma, o coração e o corpo, não necessariamente nessa ordem?
Wanda decide inventar uma viagem, esquecer Bruno e assim não magoar ninguém. Diz estar indo "em busca da felicidade", onde quer que ela esteja.
Longas e chorosas são as despedidas, curtas são as necessárias explicações.
No avião, Wanda fecha os olhos, tentando controlar a saudade, o choro e o medo em voar. Pede a Deus para que chegue bem, que realmente encontre a felicidade nessa viagem ou que, estafado, o Tom Cruise resolva aparecer lá por Aruba.
Alguém senta-se ao seu lado, e para surpresa de Wanda e talvez por uma grande mão do destino, era Bruno.
Aturdida, encantada, boba mesmo, entre tropeços e palavras começadas, Wanda consegue perguntar o que ele faz ali, ao que ele responde:
- Não podia deixar a minha felicidade escapar.
E, com o mais aberto dos sorrisos, lhe sorri.
Marcadores: Contos
Marcadores: Inspirações
Marcadores: Contos
Marcadores: Diálogos ao vento
Certa vez, casa arrumada e crianças na escola, Carmen se deu a tarde de folga indo ao shopping, espairecer. De aspecto cansado e descuidado, sua auto-estima não melhorou nada ao ver aquele desfile de mulheres lindas e gostosas. Para piorar: com uma delas, perdido em meio a longos cabelos loiros, estava Evandro. E o cara-de-pau ainda fez de conta que não a viu.
Carmen correu para casa aos prantos, vomitando a alma. Fez sua mala e a dos filhos, tomando o caminho para a casa dos pais.
Chorou até secar. E, como a maioria das mulheres que se vêem sozinhas ao fim de um relacionamento, Carmen reassumiu sua vida e seguiu em frente. Evitava Evandro, mas sem afastar os filhos do pai.
Porém Carmen se sentia incomodada ao lembrar da traição do marido. Após anos de dedicação jogados fora, só abandoná-lo não bastava. Faltava ainda o golpe final. Raspou a conta conjunta poupada há anos, e investiu em uma senhora repaginada: roupas, sapatos, cabelos, cabeça. Nunca ficara tão feliz em ver Evandro duro.
E quando o próprio resolveu tirar satisfações, se impressionou com o que viu. Esperava encontrar a esposa na pior, mas ela estava linda, mais ainda que no início do casamento.
Ele então tentou de tudo: desculpas, serenatas, flores. Dizia-se arrependido, e que já era hora de ser perdoado.
Carmen o recebeu de volta. Foi a melhor esposa, a mais devotada mãe, a mais fogosa amante. Evandro não tinha do que reclamar, até começar a receber misteriosas cartas, estranhos telefonemas. Alguém, dizendo-se seu amigo, o avisava da traição da mulher.
Inseguro, preocupado, Evandro não mais dormia ou comia direito. Vigiava a mulher em todos os momentos, inclusive nos mais íntimos. Revistava sua bolsa, cheirava seus cabelos. Tentava estudar cada mudança, por mínima que fosse. Nada.
Procurou não ligar para as denúncias de infidelidade, decidindo seguir feliz. Mas um engarrafamento na Marginal, plena hora do rush, o fez mudar o caminho habitual. Buscava uma rota alternativa, mas não teve como não ver sua mulher em um carro, saindo de um motel, com a mão nos cabelos ainda molhados e seu melhor sorriso para um homem que não era ele.
Tesourando o tráfego, Evandro chega espumando em casa. Senta e espera. Uma hora depois é Carmen quem chega com os filhos e suas mochilas de colégio, uma esposa no melhor momento de mãe exemplar.
Reprimindo toda a raiva, mágoa, Evandro a questiona, interroga, aponta. Carmen só ouvia, calada, plácida. Sua reação o intriga. Esperava que Carmen se defendesse, chorasse, se ajoelhasse pedindo perdão, mas nunca que agisse assim.
Abalado, confuso, Evandro quer respostas. Precisa delas.
- Fala logo, Carmen. Era você, não era? Com outro, saindo do motel?
- (...) Era.
- E fala assim, de cara lavada, como se isso não fosse nada, sem nenhuma consideração por mim?
- A mesma que teve por mim aquele dia no shopping, cheirando o cabelo daquela loira?
- Carmen, você ainda não esqueceu daquilo? Passou, meu amor, foi um erro, eu nem me lembrava mais. E você me perdoou, não perdoou?
- Perdoei.
- E então? Por que tudo isso agora?
- (...) Crime de amor não prescreve.
Marcadores: Contos
Marcadores: Contos