segunda-feira, dezembro 04, 2006
2ª PUBLICAÇÃO

CORAÇÃO SOLITÁRIO estava assim, muito só. Coraçãozinho magoado, pisado e machucado, já sofrera demais, e por tantas vezes...

Mas o que tinha de solitário, esse coração tinha de esperançoso. Nutria o desejo de encontrar o amor perfeito ao dobrar a esquina, arrebatador, a felicidade total e absoluta. Sonhar não custa nada mesmo.

CORAÇÃO SOLITÁRIO escrevia sempre para a coluna sentimental de um jornal, campeã de cartas. Assustava ver quantas pessoas reclamavam alguém para esquentar o pé no inverno, aquela tampa de panela, a metade da laranja – ou da maçã, pêra, melancia, não importava. O que se buscava era alguém, mesmo com defeitos, para preencher o eterno vazio, para dividir os sonhos.

Entre aquelas pessoas poderia estar sua cara metade, a companhia para uma vida inteira.

“CORAÇÃO SOLITÁRIO procura alma irmã que goste de ler, ir ao cinema, jantar fora e viagens a dois. Dispensa pessoas aventureiras e que não queiram compromisso.”


Daria certo desta vez? AMOR VERDADEIRO responde ao anúncio de CORAÇÃO SOLITÁRIO com receio. Parecia bom demais para ser verdade. Alguém sensível e interessante, ainda buscando o... amor verdadeiro...

CORAÇÃO SOLITÁRIO se enche de esperança com a resposta de AMOR VERDADEIRO. Se correspondem com intensidade por cartas, e-mails.

Passa o Natal, Ano Novo, Páscoa, até decidirem se encontrar. Marcaram para o Dia dos Namorados, a oportunidade de se conhecerem e não deixarem a data passar em branco, sozinhos, mesmo que se tornassem somente amigos.


12 de junho, camisa verde e rosa branca, entrada do Itaú Cultural, 19 horas.


Um duplo susto. Se descreveram, mas imaginavam-se diferentes. Mas os gostos combinavam, descobriram amigos comuns, freqüentavam a mesma livraria.

Noite agradável, vento nos cabelos, risadas espontâneas, sinceras. Um beijo. Um convite. Um sim.

CORAÇÃO SOLITÁRIO volta radiante para casa. Sentia que sua busca chegava ao fim. Prometeram se ligar no fim da tarde, marcar um jantar, esticar. Cabeça cheia de idéias, perguntas, vontades.

Meia-noite, nada.
Um dia, dois, cinco. AMOR VERDADEIRO não dá um sinal, satisfação, sem e-mails, cartas, telefonemas. CORAÇÃO SOLITÁRIO se preocupa, se aflige, se desespera. Se despedaça.


CORAÇÃO SOLITÁRIO não acredita mais em AMOR VERDADEIRO.


AMOR VERDADEIRO não fez por mal. Sofrera demais ao acreditar em antigas promessas, o que tornava imenso seu medo de arriscar de novo. CORAÇÃO SOLITÁRIO tinha algo de diferente, especial, mágico. Sentia que era a pessoa certa, mas não sabia o que fazer. AMOR VERDADEIRO poderia implorar, pedir perdão. Mas nada fez.

CORAÇÃO SOLITÁRIO decidiu esquecer, deixar pra lá, seguir em frente. Não ligou, não escreveu. Simplesmente não quis mais saber.


CORAÇÃO SOLITÁRIO ainda procura amor verdadeiro.

Amor verdadeiro ainda nutre esperanças de fazer feliz um coração solitário.

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postado por Aleksandra Pereira às 10:17 AM |


8 Comentários:


At segunda-feira, dezembro 04, 2006 3:17:00 PM, Anonymous Anônimo 

Ale, to correndo pra caramba aqui.Mas assim que der vou te linkar.Coloquei uma tarefa pra vc la no meu blog.beijos linda

At segunda-feira, dezembro 04, 2006 5:40:00 PM, Blogger Denise 

Oi, Alê, posso te chamar assim? Tô amando seus posts, vou lendo aos poucos, tá. Quanto ao post de hoje, eu já nem procuro mais...
beijo, menina

At terça-feira, dezembro 05, 2006 3:55:00 PM, Blogger Jannine 

Não sei porque me identifiquei muito com o coração solitário.... ;). Ale eu não mando o mar de Porto não porque aí é sacanagem, mas vc bem que poderia vir aqui e aproveitar tb :). Um cheiro.

At quarta-feira, dezembro 06, 2006 1:08:00 PM, Blogger Aleksandra Pereira 

Paty, querida, já li a tarefa, tô aqui pensando nela. Está difícil, pois o que resisti em terminar, depois os terminei, com o tempo. O que recordar, postarei.

Beijo.

At quarta-feira, dezembro 06, 2006 1:09:00 PM, Blogger Aleksandra Pereira 

Claro que pode, Denise!

Sinta-se em casa por aqui, e não esquente com nada.

Bom ter você de volta.

Beijo grande.

At quarta-feira, dezembro 06, 2006 1:10:00 PM, Blogger Aleksandra Pereira 

Poxa, Jan!
Faz um ventinho daí, para ajudar os pobres mortais acalorados aqui de Santos!

Beijo

At sexta-feira, dezembro 08, 2006 9:36:00 AM, Blogger Professor Frank 

Alê

Obrigado pelo carinho de sempre através das suas belas palavras e da leitura dos meus textos.

Vamos todos escreviver por muito tempo!!!

Frank

At sexta-feira, dezembro 08, 2006 6:59:00 PM, Blogger Luiz Felipe Botelho 

Belo conto.
Belo e desconcertante como todos os teus. Não tem coisa mais nociva para o amor do que o medo do 'não', da rejeição, do abandono. E mesmo isso é só uma ilusão. Só nos abandona de fato quem nunca teve nada a ver conosco. Mas, o que seria dos grandes dramas sem os desencontros?
Beijo grande



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