“Seu Miguel”, como era conhecido, foi um homem do campo, da roça mesmo, incansável trabalhador. Nos seus últimos dias entre nós continuava levantando cedo, a procurar por sua eterna companheira, a enxada.
Outra grande companheira foi Dona Jovelina. Graças à Deus ainda conosco, mas saudosa de seu parceiro de caminhada, pai de seus doze filhos, educador com ela dos cinco que sobreviveram à fome e outras mazelas dessa vida tão severina.
Seu Miguel pouco conheceu dos netos, morando longe. Nós, ainda crianças ao visita-lo, conhecíamos um avô mais doce do que foi como pai, mas ainda assim, reservado.
Debaixo de frondosas mangueiras, cajueiros, pitangueiras, um avô que nos montava em bois e cavalos para que conhecêssemos a extensão de seus terrenos, conquistados com suor valoroso.
No mesmo período em que levou Ronald Golias e o eterno Agente 86 Don Adams, Deus chamou também Seu Miguel, guardando consigo pessoas sérias em fazer rir, e um homem simples que ria perante a dureza da vida.
Um homem pequenino, de pele curtida sol a sol, que quatorze anos atrás se despediu de mim na Rodoviária de Natal me chamando num canto, a desejar boa viagem. Me deu sua benção, e de sua mão uma bem enrolada nota de cinco cruzeiros, com a recomendação de ser para sempre feliz, e que respeitasse meus pais.
Muito tempo depois, descubro que meu avô havia feito o mesmo com minha irmã, mas a verdade não diminui em nada seu mérito:
Miguel Pedro, homem de bem, avô sem ressalvas.
Deixa saudades, e a certeza de que, onde estiver, está em Paz, olhando por nós.
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