quarta-feira, março 15, 2006
CASTELO DE CARTAS
Diana amava Alessandro. Amava às escondidas, essa era a verdade. Nunca assumiria publicamente esse amor, não conseguia esquecer que Alessandro era pobre. Tão pobre quanto Diana, mas essa mentia para se dar bem na vida. Almejava uma vida de luxo, jóias, viagens a dois. Com Alessandro, dividiria somente contas para pagar.

Até surgir Alfredo. Boa-pinta, advogado, carro do ano. A promessa do futuro caro e tranqüilo que ela tanto esperava. Em três meses de namoro, o casamento já estava marcado.

Alessandro, coitado, sofreu com a traição. Sua sorte foi ter por perto Glória, amiga desde o colégio. Glória. Sempre prestativa e generosa. Sabia de suas dificuldades, e o estimulava a estudar, a melhorar. Em uma cerimônia coletiva e simples, mas com o início de um verdadeiro sentimento, casaram-se quase ao mesmo tempo que Diana e Alfredo.

Alfredo levou a esposa para morar com seus pais, enquanto a tão sonhada casa não ficava pronta. Os primeiros meses foram bons, ainda que Diana pensasse sempre em Alessandro.

Um dia, após um exame de sangue e um filho para alegrar a vida, o mundo de Diana caiu, por duas vezes: descobriu que Alfredo tinha uma amante, e que iria viver com ela. Soube também que seu conto de fadas não passava de mentiras, uma sobre a outra. Alfredo morava de favor com os pais, que o estavam expulsando porque ele lhes desfalcava em dinheiro e bens. A tão sonhada casa que estava sendo erguida, nem sequer existia.

Após algumas semanas do casamento, Alfredo descobriu que Diana mentira sobre suas origens e que era pobre. Não teria de onde arrancar dinheiro para que pudesse saldar suas dívidas, principalmente a do agiota que lhe perseguia, o que o obrigava a roubar dos pais. Até que ele conheceu Irene, perua cinqüentona riquíssima que de longe farejou o verdadeiro interesse de Alfredo por ela, mas que o amava mesmo assim.

Diana não derramou uma lágrima sequer. Estava seca, mesmo com um filho crescendo no ventre. Sozinha, volta para a casa dos pais, onde se tranca até muito tempo após o nascimento do filho. Se perguntava por onde andaria Alessandro, e se ele ainda pensava nela.
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Os anos passam. Um dia, trabalhando como vendedora em uma loja que pagava pouco, mas lhe garantia o sustento, Diana revê Alessandro. É impressionante como, depois de tanto tempo, ainda sente o mesmo tremor nas pernas quando o tem assim, tão próximo.

Alessandro está mais centrado, sereno. Se surpreende em rever Diana, mas a cumprimenta como a uma amiga que não vê há muito, mas simplesmente uma amiga.

Conta que estudou, trabalhou muito. Foi morar no interior com a família, comprou alguns bois, é um pequeno fazendeiro bem quisto na região, emprega pessoas. Não é nada perto do luxo com o qual Diana sempre sonhou, mas é feliz.

Diana ia lhe perguntar se ele ainda pensa neles, quando dois meninos chegam correndo e pulam em Alessandro. Glória entra um pouco atrás, redonda, ostentando uma nova gravidez. Cumprimenta Diana com tranqüilidade, conhecedora do coração do marido.

Glória e os filhos esperam no carro, Alessandro e Diana se despedem. Alessandro então pergunta se ela é feliz. Diana responde que sim, esperando que ele acredite. Que ela mesma acredite.

Um funcionário, mais tarde, fecha as portas da loja, enquanto se despede de suas colegas de trabalho. Tem pressa, e Diana o atrasa.

No estoque, só os manequins abandonados testemunham o choro há muito contido e represado de Diana, que um dia quis o mundo, hoje queria só ser a esposa grávida de um pequeno fazendeiro no interior.

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postado por Aleksandra Pereira às 4:14 PM |


3 Comentários:


At quinta-feira, março 16, 2006 2:06:00 AM, Anonymous Anônimo 

Tocante. Tá inspirada.
bjs

At quinta-feira, março 16, 2006 8:24:00 AM, Anonymous Anônimo 

Puxa vida...que dor!

At sexta-feira, março 17, 2006 11:02:00 AM, Blogger Andréa 

Ai, coitada. Que triste. Lindo.



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