sábado, março 11, 2006
RÉQUIEM

Detesto enterros. Um clima tão deprimente. Tristes pessoas de preto flanando em torno de uma caixa de madeira, depositária dos restos de alguém que, um dia, já foi alguém.

Olhos inchados. Soluços e mãos moles tentando consolar uma dor que não para medir, que não dá para nomear. Nem todos a sentem. Alguns, só a fingem. Mas algumas pessoas realmente se importam. O engraçado, e triste ao mesmo tempo, é descobrir quem elas são, quando não resta mais essa alternativa para quem se foi.

Sempre imaginei como seria a sensação de perder alguém tão próximo. Como seria um dia acordar e dizer "fulana não está mais aqui", "não, ela não poderá ir a sua festa, pois ela morreu semana passada". Como seria olhar para a cama ao lado, e imaginá-la para sempre fria.

Gostaria que o sentimento fosse como o de alguém que sofre de amnésia: apagar completamente aquela pessoa da sua vida, riscá-la de sua história. É muito triste para quem se lembra, mas não dá para agradar todo mundo.

Depois de um tempo cercando o caixão, todos se vão. E aquela pessoa que se foi fica ali, esperando por decisões que ela mesma já não pode mais tomar. Alguém decidirá por ela onde e o quê fazer com o que lhe resta. Reduzida ao nada. Ou ao pó.
Realmente detesto enterros. Se pudesse, não iria a nenhum. Nem ao meu. Mas a esse, infelizmente, eu não pude deixar de ir.

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postado por Aleksandra Pereira às 2:29 PM |


1 Comentários:


At sábado, março 11, 2006 3:46:00 PM, Anonymous Anônimo 

Oi, minha rainha, fico feliz por te saber feliz. Bj



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