quinta-feira, maio 11, 2006
DIFERENTES SEMELHANÇAS
- Acho que era sina do seu pai gostar de mulher que não queria viver presa dentro de casa. A outra, Lucinda, queria uma vida melhor pra ela, que ele nunca poderia lhe dar. Que ele também não me deu.

- É verdade que você a viu morrer?


- É. Organizávamos uma festa beneficente lá na ponta da praia, para arrecadar fundos para a construção do salão de baile. Recebia todos convidados quando me chamaram para ir até o lado de fora, um problema com uma das entregas. Ela vinha com um vestido todo florido, e aquela torta de carne horrível que ela sempre levava nas mãos. Ela era tão bonita. Deve ter descido do táxi um pouco longe da entrada, andava dando pulinhos, toda saltitante. Aí um ônibus queimou o sinal e a acertou em cheio. Engraçado é que o único sentimento que guardo daquele dia, é que aquela torta até que não era tão ruim assim.


- Você a detestou pelo o que ela fez a nossa família, não foi?


- Não. Não foi ela quem fez, foi o seu pai. Ela foi até muito corajosa ao me mostrar aquele barrigão e dizer que o pai da criança era meu marido. Ela só estava lutando pela felicidade dela.


- Destruindo a nossa.


- Pois é. E desde quando dá para agradar todo mundo?


- Isaura, esse tom tão condescendente não combina em nada com você, não acredito que veja tudo de forma tão pacífica assim.


- E adianta agir de outro jeito hoje, depois de quase 30 anos? Prá que que vou me descabelar pra falar mal de uma mulher já morta? (...) Tive muito tempo prá pensar nisso tudo Alberto, quase 30 anos. O tempo faz a gente equilibrar melhor nossas parcelas de culpa nas coisas que acontecem em nossa vida.


- Então por que é mais fácil perdoar a outra, e ainda não ter perdoado o meu pai?


- Não, sei. Talvez seja pelo mesmo motivo o qual você ainda não o perdoou, meu filho: nós ainda o amamos.

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postado por Aleksandra Pereira às 1:13 PM |


4 Comentários:


At quinta-feira, maio 11, 2006 7:52:00 PM, Anonymous Anônimo 

Olha, eu estou querendo fazer um blog de crônicas, já lhe disse, não é? Também já lhe disse que você é uma inspiração? Que talento, hein menina? Parabéns pela craitividade!

At sexta-feira, maio 12, 2006 12:13:00 AM, Anonymous Anônimo 

Alek,
esse Agenor continua aprontando?
Isaura não é tão ruim assim,no fundo.

bjs

At sexta-feira, maio 12, 2006 12:08:00 PM, Blogger Andréa 

O Ivan esta certissimo. Vc eh uma inspiracao, Alek- talento de sobra pra falar de coisas fortes, emocoes doídas e ainda assim tao comuns, cotidianas, dentro do peito de todo mundo. Um deleite.

At segunda-feira, maio 15, 2006 10:06:00 AM, Anonymous Anônimo 

Muito bom e forte sua história. Momentos verdadeiros e delicados, muito bem escritos!!!



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