Ainda sinto teu gosto, teu gozo. A pele encharcada de suor ainda guarda tuas impressões, teu calor.
O calor do teu corpo sob o vestido vermelho sangue. Os olhares trocados em meio a movimentos precisos, exatos, encaixados. Volúpia entre passos e sussurros, línguas, salivas.
Num canto escuro do salão, o ritmo frenético de suas ancas ao sabor da música, de um tango que cantava entregas, ciúmes e mágoas. Surdo pelos teus gritos de lascívia, censurei todos os avisos de "nãos", "talvez". Já era inteiro teu, Manoela.
Ignorei o fato de que o principal fantasma que ronda os mais conhecidos tangos é a sombra de um outro. "Mas somos diferentes", você me dizia entre cigarros, após a entrega do sexo. Você me amava. Amava.
Não sei em qual momento nos distanciamos se, por algum tempo, realmente a tive. Não posso, não consigo imaginar em qual instante você se rendeu a outros braços, mãos, carícias. A outra alma.
Volte. Nem que seja para me machucar ainda mais. Me faça esquecer a visão derradeira de suas costas me dando adeus, e desse cinzeiro cheio de baganas manchadas com batom.
Dance comigo, Manoela.
Mais uma vez.
Tango dancers_Buenos Aires, Pablo Corral Vega
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