Temos a ambição de marcar as pessoas, principalmente as mais próximas, com grandes feitos. O tempo passa, e percebo que as que mais me marcaram foram as que praticaram pequenas e importantes ações ao longo da vida. Como meu avô, Miguel Pedro.
"Seu Miguel", como era conhecido, foi um homem do campo, da roça mesmo, incansável trabalhador. Nos seus últimos dias continuava levantando cedo, a procurar por sua eterna companheira, a enxada.
Outra grande companheira foi Dona Jovelina. Graças a Deus ainda conosco, mas saudosa de seu parceiro na vida, pai de seus doze filhos, educador dos cinco que sobreviveram à fome e outras mazelas de uma vida tão severina.
Seu Miguel pouco conheceu dos netos, morando longe. Nós, ainda crianças ao visitá-lo, conhecíamos um avô mais doce do que foi como pai, mas ainda reservado.
Debaixo de frondosas mangueiras, cajueiros, pitangueiras, um avô que nos montava em bois e cavalos para que conhecêssemos a extensão de seus terrenos, conquistados com valoroso suor.
No mesmo período em que levou Ronald Golias e o eterno "Agente 86" Don Adams, Deus chamou também Seu Miguel, guardando consigo pessoas sérias em fazer rir, e um homem simples que pouco ria perante a dureza da vida.
Um homem pequenino, de pele curtida sol a sol, que quinze anos atrás se despediu de mim na Rodoviária de Natal me chamando num canto, a desejar boa viagem. Me deu sua benção e de sua mão uma bem enrolada nota de 5 cruzeiros, com a recomendação de ser para sempre feliz e que respeitasse meus pais.
Muito tempo depois, descobri que meu avô havia feito o mesmo com minha irmã, mas a verdade não diminuiu em nada seu mérito.
Miguel Pedro, homem de bem,
avô sem ressalvas.
Deixa saudades, e a certeza de que, onde estiver, está em Paz, olhando por nós.
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