segunda-feira, outubro 16, 2006
"Se"
Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum ressentimento,

Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos, Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.

Professor Hermógenes
Livro: Canção Universal

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postado por Aleksandra Pereira às 10:23 AM |


5 Comentários:


At segunda-feira, outubro 16, 2006 2:20:00 PM, Anonymous Anônimo 

Este meu comentário é apenas para dizer que estou de volta ao munfo blogueiro. E, para dizer que tenho de ler algumas coisinhas anteriores por aqui, né? Ah, e também para dizer que ainda espero seu telefonema.

At segunda-feira, outubro 16, 2006 4:34:00 PM, Blogger GÊNERO CINEMATOGRÁFICO 

Meu Deus... que coisa. Um texto lindo num momento certo? Advinhas minha musa literária. Criadora do Artur sem H mais bonito que já li.
Beijos

At terça-feira, outubro 17, 2006 7:47:00 PM, Anonymous Anônimo 

Poema forte e verdadeiro, Aleksandra.
Boa puxada de orelhas.
Pensava que você tinha escrito e fiquei bobo quando vi que era de Hermógenes. Não sabia que ele escrevia poemas.

A vida de Hermógenes por si só já é incrível. Parece que aos 40 ele estava super mal de saúde e no yoga conseguiu não só se recuperar como reencontrar seu caminho. Hoje creio que ele tem mais de 80 anos e a vitalidade de alguém de...40!!!
Bjão pra ti

At terça-feira, outubro 17, 2006 10:23:00 PM, Blogger Aleksandra Pereira 

Postei o poema depois que assisti ao documentário "Hermógenes? Deus me Livre de ser Normal", mostrando o ser verdadeiro e iluminado que o mestre é. Tão simples, tão cheio de vida, realmente inspirador.

Ele teve problemas de saúde sim, Felipe, que o levaram ao estudo da Yoga. Foi pela dor, mas abraçado com amor, o que importa.

Beijo grande procês, namastê!

At quarta-feira, outubro 18, 2006 12:39:00 PM, Blogger Aleksandra Pereira 

http://www.tvebrasil.com.br/doctv2/hermogenes.htm



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