- Agorinha. Acabou de sair com o Gabriel.
- Gabriel. Agora é tudo ele, dele, o Gabriel viu, o Gabriel falou...
- Ciúmes?
- Não! Não, claro que não. Mas Antônia é minha melhor amiga. Poxa, ela me tirou da concha depois do divórcio, agüentou meu mau humor, dor de cotovelo...
- Talvez ela precise dar um tempo nessa amizade de vocês.
- Acha mesmo?
- Acho.
- (...)
- E é possível também que ela já tenha percebido o óbvio.
- Não tem nada prá perceber, percebido o quê? (...) Você acha que ela sabe que eu gosto dela, de outro jeito?
- Acho.
- É tão evidente assim?
- Ô. Ela é bem esperta. Mas eu acho que não foi só isso que ela percebeu não.
- Não?
- Vitor. Eu sempre entro junto com a Antonia, antes de você. Tem dias que ela chega amuada, tristinha, mas o dia dela se ilumina quando você entra por aquela porta.
- É? (...) E você não imagina o quanto me dói sair por ali, e ter que deixá-la pra trás. É abandonar a melhor parte de mim.
- Então se mexe. Pelo que eu vejo daqui da janela, sua melhor parte logo logo entrará naquele FIAT prata. Corre!
Rodapé:Como bem apontado pela queridíssima e sempre antenada Andréa N., até o nome Vitor, essa bem que poderia ser uma história de amor entre mulheres.
Eu só percebi isso depois. Na primeira versão do texto, o Vitor dizia "Poxa, ela me tirou da concha depois que me separei da minha mulher, agüentou meu mau humor, minha dor de cotovelo...". Troquei porque achei que havia ficado longo.Mas acredito que caiba também para um amor lésbico. São tão parecidas essas dores de amor...
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