sábado, setembro 17, 2005
Filho amado, filho adorado
Sábado, 11 de agosto de 2003

"Oi, filhão.
Tudo bem com você? Seu velho aqui também tá legal. Como é que vão as coisas aí no céu, hein? Brincando muito com o chefão? Pelo jeito ele não aguentou ficar longe de você por muito tempo, e teve que te chamar de volta.

Lembra quando você me perguntou de onde vinham as pessoas? Eu não sabia o que te dizer. Tão pequeno para saber destas coisas. Eu lhe disse que as pessoas vinham "do oriente". "E é prá onde elas vão quando morrem, que nem o vovô Atílio?", você perguntou. Eu lhe disse "É, elas voltam prá lá, pro oriente". E você, na sua gloriosa inocência, acreditou.

Quantas saudades. Ouvir Eric Clapton me faz lembrar você. Ele também perdeu em um acidente um filho que tanto amava. Será que você continuará sendo o mesmo, será que saberá o meu nome, quando nos encontrarmos no céu?

É muito duro viver sem um pedaço da gente. Nós sofremos por perder você, mas sua dor deve ser muito maior, meu filho. Você perdeu um pai, uma mãe, duas avós e um avó que lhe amavam demais. Tomara que o vovô Atílio esteja tomando conta de você aí no céu.

(...) E dizem que homem não chora.

Escondido, eu choro todos os dias por você, minha criança. Mas temos que prosseguir com nossas vidas. Preciso dar forças para sua mãe. Ela se faz de forte, mas sente muito a sua falta.

Se lembra que ela sempre dizia que não queria que você tivesse saído da barriga dela, para viver sempre juntinho de você?

Mas você era curioso. Quis sair logo para ver esse mundão enorme, as pessoas, nada de ficar acomodado no quentinho da barriga da mamãe.

Seus olhos, quando você nasceu. O desejo de ver e fazer tudo já estavam bem claros neles.

Puxa, como a gente foi feliz!
A melhor parte dos nossos dias era a noite. Escovar os dentes, colocar o pijama de palhacinho e ouvir uma boa história contada pelo papai e pela mamãe. Mas você só queria ouvir da Bela Adormecida. A princesa era a mamãe, eu era o lindo príncipe que beijava a donzela, e a Dona Efigênia, nossa vizinha, era a bruxa malvada. Você não ia mesmo com a cara dela.

Sinto falta do seu cheirinho, do seu sorrido, da gargalhada que enchia a casa. Das brincadeiras de cócegas. Quanta vida em um ser tão pequenino, tão frágil.

Você sempre foi sensível para saber quando algo nos preocupava. Aí colocava sua mãozinha em nosso rosto. E sorria. Pronto, todos os problemas, quaisquer que fossem, deixavam de existir diante desse gesto tão iluminado.

Filho amado, filho adorado.

Amanhã vamos visitar você de novo. Vamos. Mamãe também vai junto.
Nós temos uma enorme surpresa prá você. Mas você já sabe, não é, meu anjinho?
Obrigada pelo presente que você está nos mandando.
Seu irmãozinho, ou irmãzinha, deverá trazer a alegria de volta à nossa casa. É o que esperamos. Sabemos que ele não é você, mas também o amaremos muito, muito mesmo.

Bem, papai precisa dormir. Os anjos também dormem? Durma bem, meu filho. Boa noite. Durma com seus amigos anjos. Se cuida, filhão. Nós te amamos.

Com amor, do sempre seu,

Papai."

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postado por Aleksandra Pereira às 11:04 PM |


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