domingo, fevereiro 26, 2006
Aleks Simpson, baby!
 
postado por Aleksandra Pereira às 9:31 PM | 2 comentário(s)
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postado por Aleksandra Pereira às 11:23 AM | 2 comentário(s)
sábado, fevereiro 25, 2006
Herança e Homenagem em Virginia Woolf
Informações recentes e revisadas sobre a obra e a biografia da escritora Virginia Woolf (1882-1941).

Um "estudo de fôlego" (tese de doutorado) sobre o pensamento de uma das vozes que mais exerceram influência sobre a escrita, no século XX e no mundo ocidental.

A tese de Vera Lima se intitula Herança e Homenagem em Virginia Woolf. Foi defendida no programa de pós-graduação em Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ, em novembro de 2002, e obteve grau de excelência.


[textos extraídos das páginas web]
 
postado por Aleksandra Pereira às 7:08 PM | 3 comentário(s)
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
- Desencana, Renato. É do Pepê que eu gosto.
- Blá, blá, blá...
- É isso mesmo. Ele é bonito, inteligente, e ainda reúne as quatro coisas que eu mais gosto em um homem de verdade, e não assim, um genérico de homem.
- Ah, é? E quais seriam?
- Ele me instiga intelectualmente. Tem gostos parecidos com os meus. Me faz rir.
- Pára, isso tá mais pra "perfil do homem ideal" de revista feminina! E se eu ainda sei contar, foram só três.
- Ah, é claro, faltou incluir um bumbum bem durinho!

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postado por Aleksandra Pereira às 1:31 AM | 2 comentário(s)
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
A poesia é a meta de toda e qualquer arte. Todas se justificam nela. Só posso dizer que uma prosa sem poesia não merece ser escrita. Arte é forma, forma é beleza, beleza é poesia. Espero não pecar quanto a isso. "
ADÉLIA PRADO, em entrevista ao site e jornal impresso RASCUNHO.





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postado por Aleksandra Pereira às 2:39 AM | 2 comentário(s)
terça-feira, fevereiro 21, 2006
VÁRIAS DESCOBERTAS E UMA FRAUDE
DESCOBERTAS

Recentemente um amigo antigo de colégio me encontrou através do Orkut, surgido de uma época prá mim tão remota que passei o resto do dia aclarando lembranças, avivadas pelas fotografias que guardei - já que não posso mais confiar só em minhas memórias.

De um modo estranho, não guardo amigos de infância, colégio, até de faculdade são poucos os que considero. Sempre que olho para trás, não vejo raízes. Os únicos que reconheço facilmente são aqueles que me acompanham até hoje: Machado, Flaubert, Calvino, Shakespeare, Woolf, Rosa, Wilde, Veríssimos, Sabino, Rey e outros tantos, sempre com um à mão.

Difícil era encontrar alguém que compartilhasse de minhas paixões, literárias ou musicais. Complicado para uma fase da vida onde todos querem se encontrar em grupos, turmas, pensamentos, ficando iguais, comuns. Você quer ser diferente, sabe que freqüentar bibliotecas não é perda, antes um prazer, e que também gostar de músicas mais velhas que seus pais não é nenhum problema.

E na juventude de quem facilmente já recebe vários apelidos, você ganha outros tantos, por não se adequar à maioria. Você não sabe se está triste por ser “diferente”, ou por sentir que, lá no fundo, alguns queriam ser como você.



Lembro que um ano após o término do colegial, já entrando na faculdade, eu era praticamente a única de toda essa turma que não havia casado ou assumido compromissos por uma inesperada gravidez.

Faculdade terminada, tempo passando, cobranças que aumentam: “e o casamento, quando sai?”. A continuidade da família, estabilidade. Me sentia, como li numa revista feminina, “o iogurte na porta da geladeira, com validade vencida recentemente”. Você pode tentar não medir o tempo, mas as pessoas sempre te lembrarão dele.

Mas afinal, não constituir família cedo foi bom ou ruim prá mim?



Queria respostas. Fui resgatar contatos que me indicassem onde estão hoje essas pessoas que fizeram parte de meu passo, saber o que fizeram com suas vidas:

alguns divorciados, com filhos. Outros casados e filhos, com subempregos. Poucos cursaram o 3º grau, e a maioria não trabalha com ou no quê gostaria. Pouco estudaram de lá para cá, e suas vidas basicamente se resumem às famílias, ou ao que restou delas.
São poucos, raros, os que posso olhar a vida e dizer “caramba, que bacana”, pelo sucesso profissional. Pessoal, todos reclamam.

Mas não sei quem trocaria a sua má experiência, pela minha falta de vivência. Eu que continuei a diferente do grupo, eu que não tinha assuntos em comum ao ouvir sobre maridos, bebês, dia-a-dia de um casal em crise, divórcios, recomeços. São coisas que em sua maioria só conjecturo, pois faz parte de meu trabalho como escritora criar e imaginar histórias para as mais diferentes vidas, mas de pessoas comuns, com carne, osso e sentimentos.


A FRAUDE

Foi quando percebi que escrevo sobre a vida desses meus amigos, o que é comum a eles, que viveram e vivem tudo isso. A vida real recriada na ficção é a deles, não a minha. Mesmos nos livros, a vivência me é emprestada. Eu só finjo que vivi.

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postado por Aleksandra Pereira às 12:44 AM | 5 comentário(s)
domingo, fevereiro 19, 2006
Cárceres
São Paulo, 30 de abril de 1987

As celas se fecham, é chegada a hora, o instante mais difícil: o de tentar dormir o sono dos justos, mesmo sendo todas nós, culpadas. Seu mundo fica mais distante de meu, filha minha, mas aqui sigo cumprindo meu destino por amar alguém demais.

Vivemos em prisões, estando atrás de grades ou não. Impedidos de expressar o que sentimos, dizer o que queremos. O próprio nascer mulher, libertador por sermos nós as geradoras da vida, é a maior de nossas prisões.

Por isso, filha minha, te desejo o que de melhor o futuro possa te oferecer, num pedido muito simples: não siga os meus passos. Rompa com seu passado, queime suas raízes, nasça de novo e, principalmente, não se doe por amor.

Seja forte o quanto puder. Entregue seu corpo, nunca seu coração. Amar foi sempre a perdição de nossa família, filha minha, infelizmente a única herança que te deixo.

Espero que nunca se perca. Continue nossa história por nós, submissas ou violentadas, loucas ou encarceradas.
Sobreviva a nós.

Com afeto,
Sua mãe.

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postado por Aleksandra Pereira às 4:48 PM | 1 comentário(s)
sábado, fevereiro 18, 2006
PEQUENO BREVIÁRIO SHAWIANO
Bernard Shaw


Não há amor mais sincero que o da comida.

Cabe à mulher casar-se o mais cedo possível e ao homem ficar solteiro o mais tempo que pode.

A minha especialidade é ter razão quando os outros não a têm.

Quando um tolo pratica um ato de que se envergonha, declara sempre que fez o seu dever.

Quem nunca esperou não pode desesperar nunca.

Uma vida inteira de felicidade? Ninguém agüentaria: seria o inferno na terra.

O pior crime para com os nossos semelhantes não é odiá-los, mas demonstrar-lhes indiferença: é a essência da desumanidade.

Há duas tragédias na vida: uma, a de não alcançarmos o que o nosso coração deseja; a outra, de alcançá-lo.

O lar é a prisão da moça e o hospício da mulher.

O martírio... é a única maneira de ganhar fama sem ter competência.

Não faças aos outros o que queres que te façam; os gostos deles podem ser diferentes dos teus.

Neste mundo sempre há perigo para aqueles que o temem.

Há apenas uma única religião, embora dela exista uma centena de versões.

Não gosto de sentir-me em casa quando estou no estrangeiro.

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postado por Aleksandra Pereira às 5:51 AM | 2 comentário(s)
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
ONDE A FELICIDADE ESTÁ

Educado, lindo e cheiroso. Bruno seria o homem perfeito para Wanda, se não fosse por um importante defeito: namorava Doralice, amiga - a melhor -, de Wanda.

Wanda não se apaixonara pelo rapaz por cobiça, nem mesmo por querer. Foi uma paixão dessas não procuradas, mas que cercam a gente.

Com o tempo, as saídas das amigas vão rareando, para tristeza de Doralice. Sempre saíram juntas, com seus respectivos pares em noites de casais ou simplesmente uma acompanhando o casal amigo.

Mas como Wanda poderia lhe explicar o embaraçamento, a vermelhidão nítida na face ante o sorriso franco de Bruno ou quando, por cordialidade, Bruno lhe perguntava se queria alguma coisa, Wanda só pensava em lhe entregar a alma, o coração e o corpo, não necessariamente nessa ordem?

Wanda decide inventar uma viagem, esquecer Bruno e assim não magoar ninguém. Diz estar indo "em busca da felicidade", onde quer que ela esteja.

Longas e chorosas são as despedidas, curtas são as necessárias explicações.

No avião, Wanda fecha os olhos, tentando controlar a saudade, o choro e o medo em voar. Pede a Deus para que chegue bem, que realmente encontre a felicidade nessa viagem ou que, estafado, o Tom Cruise resolva aparecer lá por Aruba.

Alguém senta-se ao seu lado, e para surpresa de Wanda e talvez por uma grande mão do destino, era Bruno.

Aturdida, encantada, boba mesmo, entre tropeços e palavras começadas, Wanda consegue perguntar o que ele faz ali, ao que ele responde:

- Não podia deixar a minha felicidade escapar.

E, com o mais aberto dos sorrisos, lhe sorri.

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postado por Aleksandra Pereira às 1:40 AM | 3 comentário(s)
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
Adélia Prado, "Com licença poética"
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

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postado por Aleksandra Pereira às 8:50 AM | 2 comentário(s)
terça-feira, fevereiro 14, 2006
CORAÇÃO NO ASFALTO
Quando Sabina se mudou para o prédio colado ao seu, Danilo jogava conversa fora com sua turminha no portão, atrapalhando o acesso à garagem. Sabina falou primeiro com Danilo, que não lembra mais o que respondeu. Só lembra que nunca tinha visto menina mais bonita.

Os amigos com o tempo viraram só colegas, pois Danilo vivia com e para Sabina. Assim como a amizade, crescera entre eles o amor, quando passaram a atender por Bina e Dan Dan.


***
Oito anos, desde o dia em que se conheceram e ficaram amigos, namoraram e a aproximaram suas famílias.

Novo colégio, idades dos hormônios em fúria, vontade de experimentar outros ares, olhares. Danilo reluta em assumir suas novas necessidades; Sabina, por ser mulher ou mais atenta, percebera as mudanças.

Discussões, desentendimentos. Danilo pediu um tempo para respirar e aproveitar o afastamento, curtir novos sabores, odores. Saiu com outras garotas, mas nada sério. Não custou a perceber a falta que Sabina lhe fazia. Os passeios não tinham mais a mesma graça, e os beijos ofertados não tinham o mesmo gosto dos roubados de Sabina.

Arrependido, Danilo pensa em como surpreender a amada e tê-la de volta. Preparou uma mochila com tudo o que precisava, aguardou escurecer, e saiu.

Dia seguinte, e os moradores do prédio 51 da Rua Américo Vespúcio e todos os passantes no quarteirão – que andassem olhando o chão para evitar buracos -, leram a seguinte inscrição:


Da janela de seu apartamento, Danilo apreciava sua criação. Não dormira, esperançoso, coração na garganta pulando apressadinho.

Sete e meia da manhã, e a família em torno da mesa do café, alheios ao que se passa no íntimo do jovem benjamim. Campainha. O coração de Danilo chegou primeiro à porta, batendo descompassado. Sabina!

E era mesmo, radiante em seus dezesseis anos, com o uniforme do colégio, lábio superior mordido, olhos atentos, leve e fresca, cheirando a sabonete.


Danilo compreendeu ali, na porta de seu apartamento, que Sabina seria para sempre a fonte de seus desejos, alegrias e temores, a caixa de Pandora que guardava os segredos da existência.

Mas a primeira frase de Sabina,

“Por favor, me esquece”

fez o coração de Danilo esquecer de bater.

Da forma mais doce, porém impiedosa aos olhos e ouvidos de Danilo, Sabina lhe contou sobre Edgar. O conhecera em uma festa na praia, e a distração inicial para seus pensamentos acabou se tornando o principal tema deles. Fala frisando sempre o ê, fechado, forte, “Êdgar”. Estava apaixonada.

Agradeceu a declaração, embaraçada, envergonhada por não saber o que fazer com os frangalhos de Danilo – não só o coração, estava inteiro em pedaços.

Danilo fechou a porta, sabendo que, a cada segundo, Sabina se afastava de seu apartamento, de seu amor e de sua vida. Inventou um mal-estar súbito para justificar a ausência às aulas, trancou-se no quarto e se enterrou na cama, buscando dormir e não mais acordar.

Mas acordou, sem poder impedir a chegada de um outro dia. Quis amaldiçoar Sabina, Edgar, a si mesmo. Queria que sumissem os dois, queria sumir. Vizinhos, sabia que veria sempre Sabina, e seu galante “Edgar”.

Enquanto vivessem por ali, veria os beijos ao portão, o convidado para os almoços de domingo, com Dona Sara se esmerando em preparar sua comida predileta.

Danilo se imaginou vendo os presentes de casamento chegando, os filhos levados para a escola, as saídas para a praia com cadeiras e guarda-sol a tiracolo.

E com o tempo descobriu que a dor de todos esses devaneios e suas possibilidades de se tornarem reais era suportável. Podiam se concretizar em dois, sete, doze anos.

Insuportável mesmo era a janela, e dela poder ver todo seu passado e o agora impossível futuro, contidos naquela frustrada declaração de amor, a lembrar um tempo feliz, quando Sabina era apenas Bina, e Danilo, seu Dan Dan.

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postado por Aleksandra Pereira às 1:58 AM | 2 comentário(s)
domingo, fevereiro 12, 2006
- Você não queria um irmão ou uma irmã, Suzana, queria uma boneca para brincar, mostrar para as amigas. Sua tia Olívia me contou sobre o dia em que você foi me visitar no hospital, com seu vestidinho de marinheiro...

- Eu odiava aquele vestido!

- Eu me lembro, mas te caía tão bem! Você foi o caminho inteiro falando em como iria brincar com a sua irmã, que esperava que ela fosse bem bonitinha, não chorasse muito e gostasse de brincar de comidinha. Até que sua tia lhe pegou no colo, e disse: “Suzana, aquele nenezinho ali é seu irmão Alberto”.
Quando foi me ver, de rostinho inchado de tanto chorar, me deu uma bronca enorme pois eu não havia lhe escutado, que aquela boneca vinha com defeito, que vinha com pipi. Então, como eu havia trazido o “pedido” errado, o mais correto seria eu devolver o Alberto para minha barriga e no lugar trazer a sua bonequinha.
Sua raiva rendia, até o dia em que pegou seu irmão no colo pela primeira vez, e se apaixonou por ele.

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postado por Aleksandra Pereira às 10:30 PM | 3 comentário(s)
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
LÁGRIMAS LAVADAS
O casamento de Carmen seguia aos trancos. Vivia sozinha, sem a companhia de Evandro nos momentos mais difíceis. As juras de amor trocadas no início, viraram cobranças. Cuidar da casa e dos dois filhos consumia todo seu tempo, e sua vaidade.

Certa vez, casa arrumada e crianças na escola, Carmen se deu a tarde de folga indo ao shopping, espairecer. De aspecto cansado e descuidado, sua auto-estima não melhorou nada ao ver aquele desfile de mulheres lindas e gostosas. Para piorar: com uma delas, perdido em meio a longos cabelos loiros, estava Evandro. E o cara-de-pau ainda fez de conta que não a viu.

Carmen correu para casa aos prantos, vomitando a alma. Fez sua mala e a dos filhos, tomando o caminho para a casa dos pais.

Chorou até secar. E, como a maioria das mulheres que se vêem sozinhas ao fim de um relacionamento, Carmen reassumiu sua vida e seguiu em frente. Evitava Evandro, mas sem afastar os filhos do pai.

Porém Carmen se sentia incomodada ao lembrar da traição do marido. Após anos de dedicação jogados fora, só abandoná-lo não bastava. Faltava ainda o golpe final. Raspou a conta conjunta poupada há anos, e investiu em uma senhora repaginada: roupas, sapatos, cabelos, cabeça. Nunca ficara tão feliz em ver Evandro duro.

E quando o próprio resolveu tirar satisfações, se impressionou com o que viu. Esperava encontrar a esposa na pior, mas ela estava linda, mais ainda que no início do casamento.

Ele então tentou de tudo: desculpas, serenatas, flores. Dizia-se arrependido, e que já era hora de ser perdoado.

Carmen o recebeu de volta. Foi a melhor esposa, a mais devotada mãe, a mais fogosa amante. Evandro não tinha do que reclamar, até começar a receber misteriosas cartas, estranhos telefonemas. Alguém, dizendo-se seu amigo, o avisava da traição da mulher.

Inseguro, preocupado, Evandro não mais dormia ou comia direito. Vigiava a mulher em todos os momentos, inclusive nos mais íntimos. Revistava sua bolsa, cheirava seus cabelos. Tentava estudar cada mudança, por mínima que fosse. Nada.

Procurou não ligar para as denúncias de infidelidade, decidindo seguir feliz. Mas um engarrafamento na Marginal, plena hora do rush, o fez mudar o caminho habitual. Buscava uma rota alternativa, mas não teve como não ver sua mulher em um carro, saindo de um motel, com a mão nos cabelos ainda molhados e seu melhor sorriso para um homem que não era ele.

Tesourando o tráfego, Evandro chega espumando em casa. Senta e espera. Uma hora depois é Carmen quem chega com os filhos e suas mochilas de colégio, uma esposa no melhor momento de mãe exemplar.

Reprimindo toda a raiva, mágoa, Evandro a questiona, interroga, aponta. Carmen só ouvia, calada, plácida. Sua reação o intriga. Esperava que Carmen se defendesse, chorasse, se ajoelhasse pedindo perdão, mas nunca que agisse assim.

Abalado, confuso, Evandro quer respostas. Precisa delas.

- Fala logo, Carmen. Era você, não era? Com outro, saindo do motel?

- (...) Era.

- E fala assim, de cara lavada, como se isso não fosse nada, sem nenhuma consideração por mim?

- A mesma que teve por mim aquele dia no shopping, cheirando o cabelo daquela loira?

- Carmen, você ainda não esqueceu daquilo? Passou, meu amor, foi um erro, eu nem me lembrava mais. E você me perdoou, não perdoou?

- Perdoei.

- E então? Por que tudo isso agora?

- (...) Crime de amor não prescreve.

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postado por Aleksandra Pereira às 12:51 AM | 3 comentário(s)
quarta-feira, fevereiro 01, 2006
IDENTIDADE
- Ele nunca quis saber da gente?
- Quem?
- Fernando. Nosso meio-irmão. Nunca procurou vocês, nunca quis saber como era o restante da família?
- Não sei. Acho que não. Vai ver nem sabe de nós, do jeito que conheço nosso pai...
- Não é mesmo difícil. (...) Mas você nunca ficou curiosa em saber como ele é, depois de todos esses anos?
- Não mesmo. Por mais que eu saiba que ele não tem culpa pelos erros do pai, olhar pra ele me faria sempre lembrar de tudo, que ele mesmo sem querer tem parte na separação de nossa família.
- ...
- Tá legal.
- O quê?
- É claro que eu penso nele. Todos os dias. Sabe de uma coisa que eu faço sempre que saio na rua? Fico olhando os caras com mais ou menos a nossa idade, vendo se reconheço neles alguma semelhança com o papai. Acho que no fundo o que procuro mesmo é me reconhecer neles.
- Procurando respostas?
- É. Pode ser. Muita coisa deixou de ser dita.

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postado por Aleksandra Pereira às 3:57 PM | 3 comentário(s)

LÁGRIMAS LAVADAS© 2006, por Aleksandra Pereira. All rights reserved.